segunda-feira, 30 de junho de 2008

A droga da felicidade


A vinculação que tem se inventado entre a legalização das drogas e a queda significativa do consumo das mesmas, não passa de uma elucubração que acredita ver na proibição a causa das práticas de intoxicação, isto é, a causa do querer ter acesso ao objeto proibido. Quando nos dispomos a escutar um sujeito toxicômano mantendo distancia da ânsia de curá-lo a qualquer preço, ou melhor, de “curá-lo” via a repressão, nos fica claro que a satisfação que o sujeito consegue com a prática da intoxicação, na luta pela felicidade entendida como nada querer saber sobre a miséria neurótica, adquire tamanho valor que ‘indivíduos e povos inteiros tem lhe atribuído uma posição fixa na sua economia libidinal’, como destaca Freud em O Mal -estar na Civilização. Do fazer com a substância ao tratamento do gozo com a palavra continua sendo a aposta da psicanálise nos tempos em que a exigência de gozar se confunde com um imperativo de felicidade que, paradoxalmente, deixa o sujeito tão desorientado quanto infeliz.

Oscar Reymundo - EBP, AMP

"Felicidade pronta-entrega. Felizes a qualquer preço?"

Nos próximos meses estaremos utilizando nosso blog com o intuito de ir nos preparando para dois eventos de suma importância. Um deles é a III Jornada da Seção Santa Catarian (e.f.): "Felicidade pronta-entrega. Felizes a qualquer preço?", que acontecerá nos dias 12 e 13 de setembro de 2008, em Florianópolis. Neste evento teremos como convidado internacional, Mauricio Tarrab (AE – EOL – AMP).
Outro evento em que por aqui também vamos nos preparando é o XVII Encontro Brasileiro "Psicanálise e Felicidade: sintoma, efeitos terapêuticos e algo mais", que acontecerá no Rio de Janeiro nos dias 21, 22 e 23 de novembro de 2008.
Através do site www.ebp.org.br/XVII_encontro_brasileiro/felicidade pode-se obter maiores informações sobre este evento.

Contamos com a contribuição de todos os interessados em pensar estes temas a escrever para nosso blog. Os textos devem ter no máximo uma lauda e podem ser encaminhados para gresielanr@gmail.com


"Dizemos para nós mesmos que as pessoas felizes devem estar em alguma parte. Pois bem, se vocês não tiram isso da cabeça é que não compreenderam nada da psicanálise". (Jacques Lacan, Seminário Livro 3, aula de 11-01-1956).


Programação da III Jornada da Seção Santa Catariana (e.f.): "Felicidade pronta-entrega. Felizes a qualquer preço?"

Sexta-feira 12 de setembro
19:00 Credenciamento
19:30 Abertura
20:00 I parte Seminário Internacional: "Felicidade. Qual felicidade?" por Mauricio Tarrab.
21:30 Coquetel

Sábado 13 de setembro
09:30-11:00 Mesa redonda: Felicidade e laço social. É possível ser feliz sozinho?
11:15-12:45 Mesa redonda: Usos da medicação e função da fala nos estados depressivos.
Almoço
15:00-16:30 Mesa redonda: O imperativo da felicidade nos sintomas contemporâneos.
16:45-18:15 Mesa redonda: Da miséria neurótica à infelicidade comum.
18:30-20:00 II parte Seminário Internacional.
20:00 Encerramento.

Os interessados em escrever trabalhos para compor as mesas redondas, devem enviar seus textos até segunda-feira 11 de agosto, dentro das seguintes normas: máximo 4 páginas, espaço 1.5, letra 12, Times New Roman, justificado, sem paginação, referência bibliográfica ao final do texto.. Os trabalhos devem ser encaminhados para: EBP-SC ebpsc@newsite.com.br Assunto: Comissão Científica III Jornada

terça-feira, 24 de junho de 2008

Psicanálise e cultura: do mal-estar à sublimação

Cultura, significante que nos diz tanto daquilo que nos diferencia da natureza quanto das produções consideradas elevadas do comum.
A psicanálise, que aponta a ilusão da complementaridade, que denuncia a destituição de um Outro que dê conta, também é a que aponta para a saída via singularidade, que aposta num fazer que cada um pode dos seus sintomas. Se a psicanálise é a que aborda os “estragos” que a linguagem nos provoca, também é a que aponta as saídas que podemos encontrar, nela, nos laços que ela nos propicia.
Da cortante análise que Freud fez da civilização às criações que a humanidade pôde fazer para lidar com os impasses do estar vivo é o que se trata de discutir neste grupo.
A Seção Santa Catarina (em formação) da Escola Brasileira de Psicanálise realiza a atividade Psicanálise e cultura: do mal-estar à sublimação, na qual se propõe à conversação, grupo de leitura, de estudos, tertúlia, pesquisa... Que possamos fazer um bom uso de Freud, de Lacan, dos psicanalistas, filósofos, artistas... que têm tentado pensar a cultura, seus impasses e suas saídas.
Reuniões quinzenais, às terças-feiras, das 19h às 21h20.
Local: sala de aula da Seção SC/EBP.
Informações e inscrições: 32222962

Soraya Santos Valerim - EBP-SC (e.f.) - responsável pela atividade

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Ecos do colóquio

Foi muito prazerosa, além de instigante, a conferência com que Cássia R. Guardado nos brindou no colóquio, evento organizado pelo Núcleo de investigação de psicanálise com crianças, da EBP-SC, no início deste mês de junho. Cássia nos conduziu, através da sua leitura do conto de Clarice Lispector “Legião estrangeira”, a uma analogia da posição do analista como aquele que acompanha o sujeito criança em seu percurso de análise rumo ao sujeito adulto que está em um por-vir, - a escansão feita aí para indicar uma ausência, um vazio onde pode se alojar o desejo do analista, condição para uma análise - e a posição da personagem de Clarisse que estabelece com uma criança, sua vizinha, uma relação de observação silenciosa. Silenciosa, porém plena de desejo, capaz de sustentar sem palavras esta estranha visita diária em sua sala.

Marise Pinto

quarta-feira, 18 de junho de 2008

A Escuta Psicanalítica da Criança e o Analista Cidadão

O principal efeito de formação vindo do Colóquio: Ser Criança: inibições, sintomas e angústias na contemporaneidade foi que, ao final, os organizadores e participantes tinham ainda em seus semblantes um erotismo que nos mostrava tanto que havia cumprido uma etapa de seu trabalho com êxito, quanto que havia ainda energia e desejo de seguir adiante, nessa formação incessante própria do fazer e pensar psicanalítico. Quero destacar este aspecto e falar da minha satisfação por presenciar este entusiasmo tão fundamental para o trabalho com crianças.
Outro aspecto fundamental, foi ouvir de Cássia Guardado uma frase, quando ela comentava a respeito do caso de psicose apresentado por Bruna M. Soares, Gresiela N. da Rosa e Patrícia B. Nogueira, na mesa em que coordenava. Trata-se do caso no qual a mãe da referida paciente entregou sua filha aos cuidados de Deus e que, neste momento, segundo o relato, passou a operar melhoras na paciente. Neste caso, "Deus" operou como um terceiro, cumprindo, de certa forma, a função do pai. Neste comentário, Cássia falou da importância de: "abrir um espaço de escuta para as mães, desviando, deste modo, seu olhar de seu filho para algum outro lugar". Quando deu sua conferência, Cássia Guardado fez referência ao CPCT (Centro Psicanalítico de Consulta e Tratamento) das crianças, fundado em Paris e coordenado por Yasmin Grasser, membro da Escola da Causa Freudiana e do Instituto do Campo Freudiano de Paris.
Este fato me evocou o debate aberto por Bernard This no Instituto do Campo Freudiano em Paris, em 25 de junho de 2007, a respeito de seu livro: La Maison Verte - Créer des Lieux d'Accueil (A Casa Verde - Criar Lugares de Acolhida), do qual Yasmin Grasser participou e no qual foi debatido o trabalho que o próprio Bernard This fundou com Françoise Dolto em Paris, justamente com essa função de criar espaço para um terceiro - analisado ou analisante, como dizia This - na escuta do que diz respeito à criança na relação familiar.
Ao entrevistar Bernard This em março de 2007, ele comparou os CPCT's com a própria Maison Verte que ajudou a criar em 1979. Segundo ele, o CPCT é uma versão moderna do que ele, ao lado de Françoise Dolto criou a quase 30 anos atrás. Este tema me pareceu extremamente rico e importante no que diz respeito à Psicanálise Aplicada e Teórica, pois me fez chegar à indícios de que, enquanto Lacan elaborava sua última clínica, pesquisando sobre psicoses e elaborando a partir dos nós, Bernard This, Françoise Dolto, Jenny Aubry, Maud Manoni e outros criavam lugares de tratamento para crianças e jovens na França.
Parece que o movimento da Escola da Causa Freudiana mantém este ritmo histórico de trabalho prático e teórico - se é que posso me arriscar a tanto - ao tratar do último ensino de Lacan e atendendo a apelos sociais urgentes (falo das urgências subjetivas) criando os CPCT's.


Enedina Martins
Correspondente da Seção Santa Catarina* da Escola Brasileira de Psicanálise

*(em formação)

Orientação Lacaniana

Assim denomina Jacques-Alain Miller a série de seus cursos anuais iniciados desde 1972, no Departamento de Psicanálise da Universidade de Paris VIII. Segundo Miller, a orientação implica “uma arte de se reconhecer o lugar onde se está, determinando pontos cardeais.” Por outro lado, significa afirmar que “há movimento na orientação de Lacan”. Como nos transmitiu Carlos A. Nicéas, para Miller, "a orientação analítica foi concebida como um avesso da produção de um saber acabado, imóvel”(2007).
Neste ano, tomou-se como eixo de estudo o Curso que Jacques-Alain Miller iniciou em novembro de 2007. Miller afirma que se o tempo de Freud foi o do “Mal-estar na civilização”, a época de Lacan foi a dos impasses na civilização. Desde o momento em que a produção “tomou as rédeas da civilização o sujeito se viu em relação com o objeto mais-de-gozar, que supõe uma certa indiferenciação do objeto, implica uma numeração do objeto na qual a questão é: quanto?” A preocupação, e mesmo o espanto, com o modo como o discurso da quantificação se apodera de nossa existência, leva Miller a chamar os psicanalistas para uma “ação lacaniana”: contra o deserto da quantificação e contra a “organização de um estado de felicidade uniforme de todos os homens” (Heidegger).
As aulas são apresentadas por membros da Seção SC e convidados. Para participar é necessário falar com a responsável.
Encontros quinzenais, quartas-feiras, às 20:30 hs.

Vanessa Nahas (vnahas@yahoo.com.br) - EBP/AMP - responsável pela atividade na EBP-SC (em formação)

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Sobre o colóquio de Junho






O Núcleo de Psicanálise com Crianças da Seção SC da EBP agradece a todos que estiveram presentes no Colóquio: “Ser Criança: Inibições, Sintomas e Angústias na Contemporaneidade”que se realizou nos dias 6 e7 de junho. Sentimo-nos muito satisfeitos com o resultado dos trabalhos das mesas que revelaram o empenho e a aposta de alguns em evidenciar um percurso que permite pensar a inserção da criança no discurso analítico. Com alegria agradecemos as duas conferencistas, Maria do Rosário, que nos falou do novo lugar da criança no discurso contemporâneo e de suas novas responsabilidades. Cássia Guardado por nos situar de maneira poética qual é o lugar do analista numa análise. Enfim, consideramos que os efeitos deste primeiro trabalho do Núcleo fazem-se sentir não somente no que se refere ao enriquecimento de nossa formação como analistas como também no entusiasmo que o colóquio gerou para continuarmos com nossos trabalhos.
Lembramos que o Núcleo prossegue com suas reuniões e convidamos a quem queira participar, entrar em contato com a coordenadora pelo telefone: 32222699 ou email: eneida-medeiros@uol.com.br

Eneida Medeiros Santos
Coordenadora do Núcleo

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Núcleo de Pesquisa sobre Psicose

O Núcleo de Pesquisa Sobre Psicose convida para a apresentação do trabalho “Melancolia e Passagem ao Ato Suicida”, por Cleudes Maria Slongo (Psicanalista, correspondente da Seção SC), no dia 16/06/08, às 20:00h, na sala de aula da Seção SC. Esta é também uma atividade preparatória para o XVII Encontro Brasileiro "Psicanálise e Felicidade: sintoma, efeitos terapêuticos e algo mais" e para III Jornada da Seção SC "Felicidade pronta entrega: felizes a qualquer preço?”

“ Freud, em Luto e Melancolia, pensa a melancolia a partir de seu afeto correspondente, o luto. Ante a perda do objeto, em condições bem sucedidas, o sujeito faz a experiência do luto, ou seja, desprende gradativamente os laços libidinais que investiam o objeto ora perdido e, posteriormente, estabelece novos vínculos. Na melancolia, porém, "a catexia objetal provou ter pouco poder de resistência e foi liquidada. Mas a libido livre não foi deslocada para outro objeto; foi retirada para o eu". Aqui encontramos o famoso enunciado freudiano: "A sombra do objeto caiu sobre o eu ".
Em que lugar situar o fenômeno da melancolia na clínica psicanalítica, do lado da neurose ou da psicose? Por que o melancólico tem tanta propensão a suicidar-se? Estas, entre outras questões serão abordadas neste trabalho.”


ATIVIDADE ABERTA E GRATUITA

Maria Teresa Wendhuasen
Coordenadora do Núcleo de Pesquisa Sobre Psicose

terça-feira, 3 de junho de 2008

Psicanálise na cidade: A mulher não existe!

Os alunos da sétima fase do Curso de Psicologia do Centro Universitário Barriga Verde – UNIBAVE, da cidade de Orleans, S.C. organizaram um evento, em homenagem à mulher, dirigido à comunidade, sobretudo às pessoas que estão fora do meio acadêmico. Apresentaram para a cidade uma linda festa, com direito a café colonial, desfile de moda temático mostrando as tendências da moda no último século, década a década e também uma conferência intitulada “O papel da mulher no mundo contemporâneo”.
O convite para a conferência veio da seguinte forma: “o que uma psicanalista pode dizer sobre este assunto?”
Bem, para mais de duzentas pessoas da cidade de Orleans, pude dizer que se me convidassem para falar sobre este assunto a uns 30, 40 anos, talvez menos, é provável que esperassem que se dissesse que o papel da mulher era ser boa mãe, esposa dedicada, dona de casa sensível, carinhosa, cuidadosa..., que deveria saber passar, lavar, cozinhar e principalmente saber não se intrometer nos assuntos masculinos. Mas como me convidam hoje, em 2008, para falar sobre a mulher, não estranharia se fosse esperado que alguém fizesse um discurso totalmente diverso deste outro, que fizesse um discurso que não só autorizasse, mas que também impusesse a existência de uma nova mulher.
E de que mulher se trata, esta dos novos tempos? Como descreveu Leda Guimarães(1), esta nova mulher que quer se aparentar super- super potente, autônoma, independente, mostra-se em diversas facetas: “a profissional realizada”, “a politizada”, “a administradora do lar”, “a mãe psicopedagogizada”, “a diet malhadora” e “a amante liberada”. Deveria a mulher moderna ser então, uma super profissional que luta por seus direitos e pela igualdade com os homens, sempre bonita, culta, politizada, cada vez mais entendida tanto da maternidade como dos prazeres sexuais.
Sim, este é o discurso corrente, o que impõe às mulheres que se enquadrem nestes vertentes para que chegue a ser total, para que possa ser A mulher. Mas a psicanálise, como uma “força que vai contra”, nos ajuda a compreender que A mulher, a verdadeira mulher, não era nem aquela sensível e submissa e nem esta super-super poderosa.
Contei aos cidadãos orleansenses que um importante psicanalista chamado Jacques Lacan disse uma frase que se tornou muito importante e que tem nos ajudado muito a entender um pouco as mulheres, os homens e outras coisas mais. Lacan disse que A mulher não existe, e uma das formas de interpretarmos este dito é pensarmos que não existe uma única forma, um único modelo de ser mulher e que não podemos cair na tentação de aderir aos discursos autoritários da época em que vivemos, e que devemos sim nos perguntar sobre nosso próprio desejo e que possamos dar um significado mais pessoal para esta palavra “mulher”.

1- Lêda Guimarães: “Não se apaixone! A máscara da feminilidade contemporânea. In: Opção Lacaniana, nº 44, Nov 2005.

Gresiela Nunes da Rosa – praticante da psicanálise e correspondente da EBP-SC (em formação)