segunda-feira, 25 de julho de 2011

Comentários da conferência “Por que falar... Ainda, o sinthoma”, por Louise Lhullier

Nossa sala ficou pequena ontem à noite para receber tantos interessados em ouvir Alberto Murta[1] falar a partir desse título definido por alguns como “intrigante”. Coube-me a tarefa de dar notícia do que foi sua conferência, o que faço, não sem correr o risco de ficar muito aquém ou, ao contrário, extrapolar indevidamente a sua fala, mas... poderia ser diferente?

A intervenção de Murta foi provocadora, instigante! Podemos traduzir essa provocação com o seguinte questionamento: como pode a psicanálise responder às questões que dizem respeito tanto à proliferação incessante de objetos quanto à incompletude do Outro? Nesse contexto civilizatório, a falta de um significante no Outro nos conduz, incessantemente, à fala. Falamos porque o significante falta no Outro.

Os desafios impostos à psicanálise nessa nova ordem simbólica, regida pelos seus próprios limites, convocaram Jacques-Alan Miller a avançar em algumas orientações teóricas e práticas da experiência psicanalítica. Foi se servindo da leitura do último momento do ensino de Lacan que Murta apontou algumas tentativas de resposta aos desafios da contemporaneidade.

Sinalizou como “interessante” que a abordagem da última versão do Sinthoma em Lacan contempla, em muito, a temática da VI Jornada Seção Santa Catarina. A partir dessa sinalização, recorreu à abordagem de Lacan do Seminário RSI, em que emerge uma redução do sintoma como uma função matemática, para aí isolar o enxame de S1 presente nessa formulação, a repetição traumática, e o necessário do sinthoma.

No desenvolvimento que se seguiu, Murta atualizou a concepção de Lacan do Sinthoma enquanto acontecimento de corpo. Dessa forma, distinguiu os dois status do corpo: o corpo lido enquanto reduzido à sua imagem e o corpo que porta no interior dele mesmo o “se goza”. Assim sendo, o axioma “há um”, comentado por Miller em diferentes passagens do seu atual seminário (2011), foi presentificado para encarná-lo no próprio corpo. O “há um” também pode ser lido como “ter um corpo”, tornar-se proprietário do corpo na medida em que ele é o suporte do gozo.

Na sequência, abordou o verdadeiro encontro traumático, que será sempre com a língua, como a contingência que faz o corpo existir. Por essa via Murta arrematou sua conferência, trazendo a leitura de Miller, que convoca a psicanálise de orientação lacaniana à necessidade de se servir dessa perspectiva aberta, em que baliza a experiência de final de análise a luz da versão do sinthoma enquanto acontecimento de corpo.

Feliz contingência que nos reuniu nessa noite de quinta-feira para ouvir uma fala que suscitou várias outras. Vamos continuar falando... 



[1] Psicanalista, membro da EBP e da AMP, Doutor em Psicanálise pela Universidade de Paris VIII e professor da UFES