Como fui convidada a participar deste debate, mas não me foi repassado um tema especifico,acredito que possa navegar por varias observações, fazer algumas pontuações, sem ter o compromisso de aprofundar um tema especifico.
Não tenho conhecimentos prévios referentes ao sistema educacional Frances, vou contribuir com uma leitura de minha experiência como aluna, educadora, e mãe de alunas no sistema educacional brasileiro.
E, antes de qualquer coisa, gostaria de registrar que o dia de ontem, 07 de abril/ 2011, marca nossa historia. E, seria quase que inevitável abordar, hoje, temas relacionados à escola sem fazer referencia a tragédia de ontem em uma escola no Rio de Janeiro. Sem querer me alongar sobre esta questão, pois não é este o nosso objeto de discussão... Vou fazer uso de uma pergunta, feita ontem, por uma educadora e pesquisadora aqui de Florianópolis. Em meio a uma enxurrada de reportagens informativas, sensacionalistas, ou perplexas, e em busca de um sentido... Neste contexto aparece a entrevista a uma educadora, e ela aposta na importância de se fazer uma pergunta e deixa no ar a seguinte interrogação: Por que este sujeito escolhe a escola como alvo de sua violência? Por que a escola?
Passemos agora ao filme-
Um pátio cinza... Sim começo minha fala por este espaço focalizado no filme de vários ângulos, em diversas situações, com ou sem alunos, e com ou sem professores. Este espaço cinzento do piso as paredes, e que se permite ganhar colorido com a presença dos jovens que ali circulam. Restrito a um retângulo de paredes altas... entre muros...
O filme começa com este professor de Frances, François Marin, Sr Marin, chegando a uma escola do ensino fundamental, da periferia de Paris, e na seqüência em uma reunião geral de recepção aos novos professores. A escola esta sendo preparada para receber os alunos, limpeza do espaços, ajustes nos móveis, distribuição de carga horária e informações sobre as turmas e seus respectivos integrantes.
Um primor de realidade o repasse de informações sobre os alunos (“bonzinho, nada bonzinho”) e devo confessar que na nossa realidade os professores, por vezes são mais cruéis, utilizando um termo nada “bonzinho”. Assim, os professores novos recebem as boas vindas, os horários, e um diagnostico (rótulos) de turmas e alunos.
Este professor, que é também supervisor desta classe, de sétimo ano, o que para nós poderá ser referenciado com o regente de sala, ou professor representante de turma (?!), parece um produto das relações de poder, e da violência ora velada, ora explicita existente na instituição escolar.
Já no primeiro encontro com a turma a sua apresentação de certezas, com relação ao tempo de aula, é destituída de coerência, chamando-o a rever um equivoco quanto à literalidade de seus argumentos. Ao que ele no papel de professor não assume. Em seguida novamente um pequeno embate com relação à apresentação dos nomes, ele manda escrever os nomes para a apresentação, mas não explica o porque. Faz-se necessário a intervenção de uma aluna, que também solicita a participação do professor na atividade. Aqui fiquei pensando, “putz” este cara tá nervoso, mesmo ele não gostando de ser chamado de “cara”... E fazendo uma articulação com a teoria lacaniana se para ocorrer à transferência é necessário que este sujeito que busca saber tenha o outro (aqui o professor) no lugar de sujeito suposto saber, como aquele que pode ocupar um lugar de confiança, no sentido de saber algo que ao sujeito interessa. Neste primeiro encontro o professor pode-se dizer destituído de seu lugar de saber, e ele se dá conta disto. E aqui fiquei pensando o quanto da escola tradicional tem este professor, pois um professor construtivista teria outra entrada nos temas, ou, ao se deparar com um equivoco assumiria este de outra forma, mesmos rígida. Afinal o erro é entendido como produtivo como possibilidade de pensar o novo (de novo)...
Procurado pelo professor de historia para trabalhar livros em comum, François deixa explicito sua falta de credibilidade na capacidade de seus alunos, e parece pouco entusiasmado com a proposta.
Neste contexto contemporâneo de uma escola integrada por sujeitos (alunos) de varias culturas (chineses, marroquinos, africanos, etc), religiões e classe sociais, o roteiro leva em conta a questões próprias da adolescência, e da adolescência neste momento histórico.
O filme apresenta uma longa cadeia de atividades propostas a partir do professor, ao que os alunos participam como podem se defendendo das ironias, caretas e advertências do professor.
François parece não levar em conta a linguagem que ao mesmo tempo serve de referencia (código) para uma determinado grupo cultural (e familiar) e a um grupo de pertencimento por afinidade (adolescentes). Não considera que ao trabalhar as palavras e seu significado, também se trabalha com o pertencimento do sujeito a um determinado grupo, e conseqüentemente a angustia da perda deste lugar. E não apenas a falta de vocabulário, como parece marcar o professor.
Os alunos são corajosos, não tem vergonha de perguntar, mesmo com a possibilidade do “professor pegar pesado”.
Uma cena novamente desmascara o professor, quando uma aluna pergunta: Como sabemos o que usamos para escrever e falar?
Ele, o professor, se perde ao sugerir intuição como forma de direcionar a escrita, ao que outro aluno questiona o significado de intuição.
Segue a cena que vai anunciar a expulsão de Souleymane, a pergunta sobre a sexualidade do professor. O aluno ao ser porta voz da curiosidade, uma tanto maldosa, questiona mais que a sexualidade do professor, questiona seu papel, sua função - Poderia ser escutada como: o que você (François) esta fazendo aqui? Mas, tomada como uma afronta, reprimida de ação punitiva (a pergunta), o professor até tenta levar adiante um trabalho pedagógico com este aluno. Mas, Souleymane, desconfia da atitude do professor com ralação ao seu auto-retrato, tanto é que pergunta: você esta me gozando?
E, para evitar o meu, agora longo comentário, fiquei com a certeza da violência não assumida de François, que contraditoriamente pode tratar de forma grosseira os alunos, mas que se coloca como alguém acima de punição, fumando em lugar proibido, ao permitir o uso do celular, ao relatar apenas o que lhe é conveniente nos relatórios, e ao arbitrariamente explicitar que o professor pode dizer coisas que os alunos não podem. Ele até propõe discussões e se coloca com duvidas na frente dos outros professores nas questões relacionadas às punições (12 no ultimo ano), contudo, não consegue avançar. Por que, quem sabe, não queira se implicar com o outro – o aluno? O aluno que frente à autoridade imposta do professor e do conselho disciplinar não pode ser acolhido, escutado.
Sandra Guimarães, 08 abril/2011.
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