quarta-feira, 18 de junho de 2008

A Escuta Psicanalítica da Criança e o Analista Cidadão

O principal efeito de formação vindo do Colóquio: Ser Criança: inibições, sintomas e angústias na contemporaneidade foi que, ao final, os organizadores e participantes tinham ainda em seus semblantes um erotismo que nos mostrava tanto que havia cumprido uma etapa de seu trabalho com êxito, quanto que havia ainda energia e desejo de seguir adiante, nessa formação incessante própria do fazer e pensar psicanalítico. Quero destacar este aspecto e falar da minha satisfação por presenciar este entusiasmo tão fundamental para o trabalho com crianças.
Outro aspecto fundamental, foi ouvir de Cássia Guardado uma frase, quando ela comentava a respeito do caso de psicose apresentado por Bruna M. Soares, Gresiela N. da Rosa e Patrícia B. Nogueira, na mesa em que coordenava. Trata-se do caso no qual a mãe da referida paciente entregou sua filha aos cuidados de Deus e que, neste momento, segundo o relato, passou a operar melhoras na paciente. Neste caso, "Deus" operou como um terceiro, cumprindo, de certa forma, a função do pai. Neste comentário, Cássia falou da importância de: "abrir um espaço de escuta para as mães, desviando, deste modo, seu olhar de seu filho para algum outro lugar". Quando deu sua conferência, Cássia Guardado fez referência ao CPCT (Centro Psicanalítico de Consulta e Tratamento) das crianças, fundado em Paris e coordenado por Yasmin Grasser, membro da Escola da Causa Freudiana e do Instituto do Campo Freudiano de Paris.
Este fato me evocou o debate aberto por Bernard This no Instituto do Campo Freudiano em Paris, em 25 de junho de 2007, a respeito de seu livro: La Maison Verte - Créer des Lieux d'Accueil (A Casa Verde - Criar Lugares de Acolhida), do qual Yasmin Grasser participou e no qual foi debatido o trabalho que o próprio Bernard This fundou com Françoise Dolto em Paris, justamente com essa função de criar espaço para um terceiro - analisado ou analisante, como dizia This - na escuta do que diz respeito à criança na relação familiar.
Ao entrevistar Bernard This em março de 2007, ele comparou os CPCT's com a própria Maison Verte que ajudou a criar em 1979. Segundo ele, o CPCT é uma versão moderna do que ele, ao lado de Françoise Dolto criou a quase 30 anos atrás. Este tema me pareceu extremamente rico e importante no que diz respeito à Psicanálise Aplicada e Teórica, pois me fez chegar à indícios de que, enquanto Lacan elaborava sua última clínica, pesquisando sobre psicoses e elaborando a partir dos nós, Bernard This, Françoise Dolto, Jenny Aubry, Maud Manoni e outros criavam lugares de tratamento para crianças e jovens na França.
Parece que o movimento da Escola da Causa Freudiana mantém este ritmo histórico de trabalho prático e teórico - se é que posso me arriscar a tanto - ao tratar do último ensino de Lacan e atendendo a apelos sociais urgentes (falo das urgências subjetivas) criando os CPCT's.


Enedina Martins
Correspondente da Seção Santa Catarina* da Escola Brasileira de Psicanálise

*(em formação)

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