terça-feira, 3 de junho de 2008

Psicanálise na cidade: A mulher não existe!

Os alunos da sétima fase do Curso de Psicologia do Centro Universitário Barriga Verde – UNIBAVE, da cidade de Orleans, S.C. organizaram um evento, em homenagem à mulher, dirigido à comunidade, sobretudo às pessoas que estão fora do meio acadêmico. Apresentaram para a cidade uma linda festa, com direito a café colonial, desfile de moda temático mostrando as tendências da moda no último século, década a década e também uma conferência intitulada “O papel da mulher no mundo contemporâneo”.
O convite para a conferência veio da seguinte forma: “o que uma psicanalista pode dizer sobre este assunto?”
Bem, para mais de duzentas pessoas da cidade de Orleans, pude dizer que se me convidassem para falar sobre este assunto a uns 30, 40 anos, talvez menos, é provável que esperassem que se dissesse que o papel da mulher era ser boa mãe, esposa dedicada, dona de casa sensível, carinhosa, cuidadosa..., que deveria saber passar, lavar, cozinhar e principalmente saber não se intrometer nos assuntos masculinos. Mas como me convidam hoje, em 2008, para falar sobre a mulher, não estranharia se fosse esperado que alguém fizesse um discurso totalmente diverso deste outro, que fizesse um discurso que não só autorizasse, mas que também impusesse a existência de uma nova mulher.
E de que mulher se trata, esta dos novos tempos? Como descreveu Leda Guimarães(1), esta nova mulher que quer se aparentar super- super potente, autônoma, independente, mostra-se em diversas facetas: “a profissional realizada”, “a politizada”, “a administradora do lar”, “a mãe psicopedagogizada”, “a diet malhadora” e “a amante liberada”. Deveria a mulher moderna ser então, uma super profissional que luta por seus direitos e pela igualdade com os homens, sempre bonita, culta, politizada, cada vez mais entendida tanto da maternidade como dos prazeres sexuais.
Sim, este é o discurso corrente, o que impõe às mulheres que se enquadrem nestes vertentes para que chegue a ser total, para que possa ser A mulher. Mas a psicanálise, como uma “força que vai contra”, nos ajuda a compreender que A mulher, a verdadeira mulher, não era nem aquela sensível e submissa e nem esta super-super poderosa.
Contei aos cidadãos orleansenses que um importante psicanalista chamado Jacques Lacan disse uma frase que se tornou muito importante e que tem nos ajudado muito a entender um pouco as mulheres, os homens e outras coisas mais. Lacan disse que A mulher não existe, e uma das formas de interpretarmos este dito é pensarmos que não existe uma única forma, um único modelo de ser mulher e que não podemos cair na tentação de aderir aos discursos autoritários da época em que vivemos, e que devemos sim nos perguntar sobre nosso próprio desejo e que possamos dar um significado mais pessoal para esta palavra “mulher”.

1- Lêda Guimarães: “Não se apaixone! A máscara da feminilidade contemporânea. In: Opção Lacaniana, nº 44, Nov 2005.

Gresiela Nunes da Rosa – praticante da psicanálise e correspondente da EBP-SC (em formação)

2 comentários:

Anônimo disse...

eu acho que os habitantes de Orleans ganharam muito com este evento!parece ter sido um encontro muito bonito e ainda por cima ouvir falar desse conceito de forma tão bonita, cuidadosa e sem desmerecer com concessões doutrinárias o que Lacan disse, só alguém que além de saber do que fala, sabe como falar! Parabéns Gresiela! Um psicanalista tem coisas a dizer sobre este e outros assuntos, mas nem sempre consegue dizer de forma tão bacana!

Nua & Crua disse...

Bela abordagem ---“a profissional realizada”, “a politizada”, “a administradora do lar”, “a mãe psicopedagogizada”, “a diet malhadora” e “a amante liberada”.--
Quando a gente menos espera estamos envoltos em novos grilhões...
Vale aprofundar ainda mais sobre os efeitos disto.
Um abraço