O Núcleo de Pesquisa Sobre Psicose, juntamente com a Seção SC, receberá nos dias 9 e 10 de maio para a conferência “Clínica da Psicose: uma relação pragmática”, Henri Kaufmanner, psicanalista, psiquiatra, membro da Escola Brasileira de Psicanálise (EBP).
Este núcleo vem se reunindo desde março de 2007 e tem como objetivo debater e aprofundar as questões fundamentais referentes à clínica da psicose, em especial o tratamento desta. Sendo assim, nos deparamos em nosso estudo com um movimento que se iniciou na Associação Mundial de Psicanálise (AMP) em 1997, que produziu os livros “Os inclassificáveis da Clínica Psicanalítica” e “Psicoses Ordinárias”. Este movimento visa verificar e pôr a prova a clínica do real. No momento estamos nos ocupando em investigar a função do analista no tratamento da psicose, a partir do que se convencionou chamar o segundo ensino de Lacan. Esperamos com Henri Kaufmanner avançar em nossas pesquisas e convidamos a todos os interessados no tema a se unirem a nós neste evento e no núcleo.
Maria Teresa Wendhausen - Coordenadora do Núcleo de Pesquisa Sobre Psicose da EBP-SC (em formação)
segunda-feira, 28 de abril de 2008
Notícias sobre o Congresso
Realizou-se em Buenos Aires, de segunda-feira 21 à quinta-feira 24 de abril, o VI Congresso da Associação Mundial de Psicanálise: “Os objetos a na experiência psicanalítica”. Na sexta-feira 25 realizou-se a Assembléia da AMP.Ambos os eventos transcorreram em um clima de trabalho que incentivou o intercâmbio de idéias e de experiências de psicanalistas inseridos em realidades tão diversas e que fez do Congresso e da Assembléia espaços que deixaram transparecer a vivacidade palpitante da psicanálise da Orientação Lacaniana.Em um momento da civilização em que a oferta de gozo se tornou infinita, cabe à psicanálise oferecer “eventos” de discurso capazes de civilizar o gozo, isto é, articulá-lo em um laço social. Perante o declínio na crença no inconsciente, que é o declínio da crença na suposição de saber, o encontro com um analista pode produzir efeitos. Os exemplos desta operação de amarração, própria da psicanálise aplicada, foram numerosos. Muito deste exemplos, surgidos do trabalho realizado nos CPCTs em funcionamento em diferentes países, constituíram a prova do bom uso que se pode fazer de um psicanalista na época do Outro que não existe.A política do sintoma, podemos pensar, foi o eixo que orientou o trabalho durante o Congresso, dos depoimentos do passe dos novos AEs às conversações nas diferentes mesas sobre pulsão, transferência, parceiro sintoma e saídas, isto é, o sintoma não como defeito a ser curado mas como aparelho que permite a convivência, um por um, com o gozo. Nesse sentido, é essa política do sintoma a que orienta os analistas a saírem dos seus consultórios para oferecer o discurso analítico pela cidade, uma vez que buscar e encontrar uma analista, hoje, é já uma interpretação na medida em que buscar e encontrar um analista é querer tratar o gozo pela palavra e não pelo consumo. Como a cada Congresso da AMP, nesta ocasião, também foi apresentado o tema do próximo Congresso e a cidade que o acolherá. Assim, na sua conferencia de encerramento, Jacques-Alain Miller, através de um ordenamento temático que ele elaborou sobre os Congressos da AMP já realizados, nos apresentou o tema do próximo Congresso, tema que ele considera como o momento de concluir na terna de temas que começara em Roma, 2006, com o Nome do Pai como semblante, que continuou em Buenos Aires, 2008, com o Objeto a como semblante e que concluirá em Paris, 2010, com o tema “Semblantes e Sintoma”.Finalmente cabe destacar o impecável trabalho de organização e acolhimento dos colegas da EOL.
Oscar Reymundo - Diretor Geral EBP-SC (em-formação)
Oscar Reymundo - Diretor Geral EBP-SC (em-formação)
quinta-feira, 17 de abril de 2008
Psicanálise e Criança
O Núcleo de Pesquisa e Investigação Clínica da Psicanálise com crianças, ao mesmo tempo em que vem estruturando-se como núcleo, vem também funcionando a todo vapor. São entusiasmadas as discussões que surgem em relação ao seminário 4 de Lacan – “A Relação de Objeto”, seminário fundamental para pensar não somente sobre o “Pequeno Hans” de Freud, primeira investigação psicanalítica de uma criança, como também para fazer um contraponto entre a clínica psicanalítica infantil e as manifestações sintomáticas que se apresentam nos tempos de hoje.
Da criança como sintoma que representa a verdade do casal familiar à criança como objeto, “precioso ou aviltado”, representando as formas de gozo dos pais, da escola e até mesmo do discurso médico-científico, tudo isso não pode ser trabalhado no núcleo sem percorrer as sutilezas conceituais que Lacan vai pontuando nesse seminário. Os caminhos que ele vai traçando revelam o seu rigor em demarcar para os psicanalistas um lugar de onde possam escutar estes sujeitos-crianças, sujeitos do inconsciente, lugar que não passa nem pela autoridade da palavra paterna nem pelo ímpeto educativo.
O núcleo vem também se preparando para colocar em debate, no Colóquio de junho suas elaborações, produções e interrogantes acerca de uma questão primordial: do que sofrem as crianças na lógica contemporânea? O Colóquio, que terá como título “Ser criança: inibições sintomas e angústias na contemporaneidade”, acontecerá nos dias 6 e 7 de junho e contará com a participação de Maria do Rosário C. Barros, psicanalista da EBP e membro da AMP, que fará um conferência abordando a clínica do autismo e também com os trabalhos de Cássia R. Guardado, psicanalista da EBP e membro da AMP e Márcia Stival, psicanalista correspondente da Delegação Paraná.
Eneida Medeiros Santos – Coordenadora do Núcleo de Pesquisa e Investigação Clínica da Psicanálise com Crianças.
Da criança como sintoma que representa a verdade do casal familiar à criança como objeto, “precioso ou aviltado”, representando as formas de gozo dos pais, da escola e até mesmo do discurso médico-científico, tudo isso não pode ser trabalhado no núcleo sem percorrer as sutilezas conceituais que Lacan vai pontuando nesse seminário. Os caminhos que ele vai traçando revelam o seu rigor em demarcar para os psicanalistas um lugar de onde possam escutar estes sujeitos-crianças, sujeitos do inconsciente, lugar que não passa nem pela autoridade da palavra paterna nem pelo ímpeto educativo.
O núcleo vem também se preparando para colocar em debate, no Colóquio de junho suas elaborações, produções e interrogantes acerca de uma questão primordial: do que sofrem as crianças na lógica contemporânea? O Colóquio, que terá como título “Ser criança: inibições sintomas e angústias na contemporaneidade”, acontecerá nos dias 6 e 7 de junho e contará com a participação de Maria do Rosário C. Barros, psicanalista da EBP e membro da AMP, que fará um conferência abordando a clínica do autismo e também com os trabalhos de Cássia R. Guardado, psicanalista da EBP e membro da AMP e Márcia Stival, psicanalista correspondente da Delegação Paraná.
Eneida Medeiros Santos – Coordenadora do Núcleo de Pesquisa e Investigação Clínica da Psicanálise com Crianças.
quinta-feira, 10 de abril de 2008
VI Congresso da AMP - Os objetos a na experiência analítica
Evento que se realiza a cada dois anos, alternando entre Europa e América, ocorrerá neste ano de 21 a 25 de abril em Buenos Aires e reunirá os membros da Associação Mundial de Psicanálise.
Como propõe Eric Laurent (1), a aposta maior é “prosseguir nosso diálogo entre a psicanálise como prática e a civilização, que é nossa parceira. O estado da civilização se descreve como individualismo de massa ou hedonismo conformista de massa”; a psicanálise, ao tratar do mais íntimo e ao mesmo tempo o mais estranho para o sujeito, que Lacan chamou de objeto a, orienta o tratamento em relação ao gozo, buscando “tratar cada um como incomparável, rechaçando a idéia do homem estatístico e sem qualidade, [aliviando-o] de uma existência regulada e utilitarista”, conforme as palavras de Ricardo Seldes(2) na convocatória para o evento.
Desde esta perspectiva, serão apresentados testemunhos dos analistas da escola (AE), conversação com os cartéis do Passe, conversações clínicas, plenária sobre a pragmática da cura analítica, conferência de Jacques-Alain Miller, além de assembléia dos membros.
Laureci Nunes – EBP/AMP - Diretora de Cartéis e Intercâmbio da EBP-SC (em formação)
(1) Eric Laurent é Delegado Geral da AMP- em www.eol.org.br.
(2) Ricardo Seldes, www.eol.org.br.
Como propõe Eric Laurent (1), a aposta maior é “prosseguir nosso diálogo entre a psicanálise como prática e a civilização, que é nossa parceira. O estado da civilização se descreve como individualismo de massa ou hedonismo conformista de massa”; a psicanálise, ao tratar do mais íntimo e ao mesmo tempo o mais estranho para o sujeito, que Lacan chamou de objeto a, orienta o tratamento em relação ao gozo, buscando “tratar cada um como incomparável, rechaçando a idéia do homem estatístico e sem qualidade, [aliviando-o] de uma existência regulada e utilitarista”, conforme as palavras de Ricardo Seldes(2) na convocatória para o evento.
Desde esta perspectiva, serão apresentados testemunhos dos analistas da escola (AE), conversação com os cartéis do Passe, conversações clínicas, plenária sobre a pragmática da cura analítica, conferência de Jacques-Alain Miller, além de assembléia dos membros.
Laureci Nunes – EBP/AMP - Diretora de Cartéis e Intercâmbio da EBP-SC (em formação)
(1) Eric Laurent é Delegado Geral da AMP- em www.eol.org.br.
(2) Ricardo Seldes, www.eol.org.br.
sexta-feira, 4 de abril de 2008
Psicanálise e Cultura: do mal-estar à sublimação
Acabo de assistir uma entrevista com o músico Guinga, que responde à pergunta sobre o que é compor. Docemente, como é seu jeito, diz mais ou menos assim:
Há aquele relâmpago da inspiração.
E há o suor do capinador.
Criar é capinar, capinar, capinar, atrás daquele relâmpago.
Na continuidade da entrevista, Guinga diz que já compôs no banheiro, fazendo cocô. E que ao ouvir um trecho de Wagner, vomitou, vomitou. Era uma ária chamada Descida ao Inferno.
Penso eu: suor, visão, excrementos. Fazer ALGO com o que se perde. (a caixa alta de ALGO saiu sozinha, não apertei a tecla shift. Melhor respeitar a contingência e deixar assim).
O bem junto ao mal. O maniqueísmo da nossa cultura não dá conta deste imbrincamento. De que não é que seja o princípio do prazer que regule nossos atos, atendendo a uma lógica de que claro que procuramos sempre nosso bem, que claro que não faríamos algo se não fosse em nome de nossa preservação, da aprovação, de receber amor... Todas as boas intenções que acreditamos que nos orientam. Até que depararíamos com um mais além do princípio do prazer, o vício, o fazer algo que não segue a ordem do bem estar. É pior que isso. Quando vemos, estamos cá e lá. Quando se vê, já ultrapassamos a fronteira. Bem, não há fronteira. Quando vemos, já estamos entregues ao vício, ao demônio, ao inferno. Ao gozo. Estranha extração de satisfação de algo que supostamente nos faz tão mal.
Mistura que está além de qualquer divisão bom ou ruim, que pode nos servir para pensar o momento da nossa cultura. Há uma concentração de poder e riqueza grandes, mas também há pulverização, há possibilidade de acesso. Há cada vez mais dificuldade de ser artista reconhecido se não for por força de um bom espaço na Globo, mas também há uma facilidade de acesso à tecnologia, com produtos mais ao alcance de consumir, há a possibilidade de divulgação, não massiva, pela internet, por exemplo, ou sei lá o que se possa cavar de espaço, de vitrine.
Sem cair no “o que ganhamos, o que perdemos” nesta era da economia de mercado, onde tudo pode e onde o mercado é quem regula, desde que transformado num objeto consumível, há espaço. Arcar com a singularidade, com o modo exclusivo e particular de cada um ser no mundo, nunca foi tarefa fácil. Nesses tempos, bem pouca coisa é proibida, mas o dar conta de se expressar, de se sentir livre, de colocar sua marca no mundo, continua sendo um desafio, que às vezes duvidamos que seja por culpa do Outro, que nos impede. Onde cada vez há menos proibição pode ficar mais evidente o horror de que a felicidade como harmônica é impossível.
(Este texto se originou a partir de uma discussão do Grupo Psicanálise e Cultura: Do Mal-Estar à Sublimação)
Soraya Santos Valerim (EBP-SC)
Há aquele relâmpago da inspiração.
E há o suor do capinador.
Criar é capinar, capinar, capinar, atrás daquele relâmpago.
Na continuidade da entrevista, Guinga diz que já compôs no banheiro, fazendo cocô. E que ao ouvir um trecho de Wagner, vomitou, vomitou. Era uma ária chamada Descida ao Inferno.
Penso eu: suor, visão, excrementos. Fazer ALGO com o que se perde. (a caixa alta de ALGO saiu sozinha, não apertei a tecla shift. Melhor respeitar a contingência e deixar assim).
O bem junto ao mal. O maniqueísmo da nossa cultura não dá conta deste imbrincamento. De que não é que seja o princípio do prazer que regule nossos atos, atendendo a uma lógica de que claro que procuramos sempre nosso bem, que claro que não faríamos algo se não fosse em nome de nossa preservação, da aprovação, de receber amor... Todas as boas intenções que acreditamos que nos orientam. Até que depararíamos com um mais além do princípio do prazer, o vício, o fazer algo que não segue a ordem do bem estar. É pior que isso. Quando vemos, estamos cá e lá. Quando se vê, já ultrapassamos a fronteira. Bem, não há fronteira. Quando vemos, já estamos entregues ao vício, ao demônio, ao inferno. Ao gozo. Estranha extração de satisfação de algo que supostamente nos faz tão mal.
Mistura que está além de qualquer divisão bom ou ruim, que pode nos servir para pensar o momento da nossa cultura. Há uma concentração de poder e riqueza grandes, mas também há pulverização, há possibilidade de acesso. Há cada vez mais dificuldade de ser artista reconhecido se não for por força de um bom espaço na Globo, mas também há uma facilidade de acesso à tecnologia, com produtos mais ao alcance de consumir, há a possibilidade de divulgação, não massiva, pela internet, por exemplo, ou sei lá o que se possa cavar de espaço, de vitrine.
Sem cair no “o que ganhamos, o que perdemos” nesta era da economia de mercado, onde tudo pode e onde o mercado é quem regula, desde que transformado num objeto consumível, há espaço. Arcar com a singularidade, com o modo exclusivo e particular de cada um ser no mundo, nunca foi tarefa fácil. Nesses tempos, bem pouca coisa é proibida, mas o dar conta de se expressar, de se sentir livre, de colocar sua marca no mundo, continua sendo um desafio, que às vezes duvidamos que seja por culpa do Outro, que nos impede. Onde cada vez há menos proibição pode ficar mais evidente o horror de que a felicidade como harmônica é impossível.
(Este texto se originou a partir de uma discussão do Grupo Psicanálise e Cultura: Do Mal-Estar à Sublimação)
Soraya Santos Valerim (EBP-SC)
terça-feira, 1 de abril de 2008
"Não fique triste! Não se zangue!"
Não fique triste! Não se zangue! – este foi o título da Aula Inaugural da turma 2008-2009 do Curso de Formação da Seção SC (em formação) da EBP.
Pontuada sobre tema caro aos psicanalistas – a expressão dos afetos, a aula foi marcada por um posicionamento contrário à campanha mundial, orquestrada pela psiquiatria biológica e os laboratórios farmacêuticos que, de forma alarmista, induzem à inclusão de qualquer manifestação do afeto de tristeza dentro do diagnóstico de depressão, além de propor a “pílula do homem feliz” – o antidepressivo.
Fundamentalmente utilizou-se dados apresentados por psicanalistas franceses da AMP, que denunciam tal campanha, que está em curso em 18 países da Europa, promovida pela Aliança Européia Contra a Depressão – EAAD, que em seus guias de orientação e educação para a saúde, apontam para a idéia de uma epidemia que ameaça à população. Visando alertar para o risco do que chamam de nova epidemia, incutem a generalização da depressão e, justificados pelo argumento do sub-diagnóstico, traduzem para a linguagem comum, item por item, o previsto no DSM IV, com o intuito que se realize o auto-diagnóstico e que as pessoas sigam as orientações prescritas, que redundam na administração de anti-depressivos e seu tratamento coadjuvante: as Terapias Congnitivo-Comportamental .
Enquanto psicanalistas de orientação lacaniana cabe-nos marcar que:
1 - tristeza e felicidade são afetos tipicamente humanos, resposta a eventos normais da vida, portanto correspondem às manifestações mais íntimas dos sujeitos, em seus encaminhamentos nas trilhas do desejo e no encontro com o gozo, isto é, no mais-além do desejo.
2 – há uma patologização dos afetos, pela sua generalização em diagnósticos clínicos que, além de errôneo, encaminha-se para a suposição que se pode (e se deve) estar sempre feliz e à intolerância à expressão do mal-estar.
3- não tomamos sintomas como quadro clínico e, enquanto profissionais, temos a responsabilidade de bem distinguir uma alteração normal do humor de um quadro patológico, no que alertamos quanto aos riscos dos auto-diagnósticos.
4 – a medicação, muitas vezes necessária, não pode ser proposta como o principal recurso ao tratamento pois, neste caso, se está levando em conta o homem somente em seus aspectos neuronais e sinápticos em detrimento à subjetividade e aos saberes que daí podem advir, como respostas singulares ao sofrimento, desde que se possa por ele (o seu sofrimento) se responsabilizar, o que não ocorre com a proposta protocolar, massificadora, das TCC.
Por último marcamos a diferença da formação requerida aos que se propõem a tratar do sofrimento psíquico que, na campanha citada, o médico generalista é apresentado como um dos que estão autorizados a diagnosticar e tratar os deprimidos; para nós, psicanalistas de orientação lacaniana, sabemos que em nada uma formação exclusivamente médica habilita alguém a tal exercício, seguimos à Freud (sobretudo em “A questão da análise leiga”) e apontamos a inutilidade do saber-conhecimento para tal trabalho; propomos a formação calcada no tripé: análise pessoal, estudo sistemático da bibliografia e supervisão de casos clínicos.
Laureci Nunes (EBP/AMP)– Coordenadora do Curso de Formação em Teoria Psicanalítica da EBP-SC (em formação)
Pontuada sobre tema caro aos psicanalistas – a expressão dos afetos, a aula foi marcada por um posicionamento contrário à campanha mundial, orquestrada pela psiquiatria biológica e os laboratórios farmacêuticos que, de forma alarmista, induzem à inclusão de qualquer manifestação do afeto de tristeza dentro do diagnóstico de depressão, além de propor a “pílula do homem feliz” – o antidepressivo.
Fundamentalmente utilizou-se dados apresentados por psicanalistas franceses da AMP, que denunciam tal campanha, que está em curso em 18 países da Europa, promovida pela Aliança Européia Contra a Depressão – EAAD, que em seus guias de orientação e educação para a saúde, apontam para a idéia de uma epidemia que ameaça à população. Visando alertar para o risco do que chamam de nova epidemia, incutem a generalização da depressão e, justificados pelo argumento do sub-diagnóstico, traduzem para a linguagem comum, item por item, o previsto no DSM IV, com o intuito que se realize o auto-diagnóstico e que as pessoas sigam as orientações prescritas, que redundam na administração de anti-depressivos e seu tratamento coadjuvante: as Terapias Congnitivo-Comportamental .
Enquanto psicanalistas de orientação lacaniana cabe-nos marcar que:
1 - tristeza e felicidade são afetos tipicamente humanos, resposta a eventos normais da vida, portanto correspondem às manifestações mais íntimas dos sujeitos, em seus encaminhamentos nas trilhas do desejo e no encontro com o gozo, isto é, no mais-além do desejo.
2 – há uma patologização dos afetos, pela sua generalização em diagnósticos clínicos que, além de errôneo, encaminha-se para a suposição que se pode (e se deve) estar sempre feliz e à intolerância à expressão do mal-estar.
3- não tomamos sintomas como quadro clínico e, enquanto profissionais, temos a responsabilidade de bem distinguir uma alteração normal do humor de um quadro patológico, no que alertamos quanto aos riscos dos auto-diagnósticos.
4 – a medicação, muitas vezes necessária, não pode ser proposta como o principal recurso ao tratamento pois, neste caso, se está levando em conta o homem somente em seus aspectos neuronais e sinápticos em detrimento à subjetividade e aos saberes que daí podem advir, como respostas singulares ao sofrimento, desde que se possa por ele (o seu sofrimento) se responsabilizar, o que não ocorre com a proposta protocolar, massificadora, das TCC.
Por último marcamos a diferença da formação requerida aos que se propõem a tratar do sofrimento psíquico que, na campanha citada, o médico generalista é apresentado como um dos que estão autorizados a diagnosticar e tratar os deprimidos; para nós, psicanalistas de orientação lacaniana, sabemos que em nada uma formação exclusivamente médica habilita alguém a tal exercício, seguimos à Freud (sobretudo em “A questão da análise leiga”) e apontamos a inutilidade do saber-conhecimento para tal trabalho; propomos a formação calcada no tripé: análise pessoal, estudo sistemático da bibliografia e supervisão de casos clínicos.
Laureci Nunes (EBP/AMP)– Coordenadora do Curso de Formação em Teoria Psicanalítica da EBP-SC (em formação)
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