Não fique triste! Não se zangue! – este foi o título da Aula Inaugural da turma 2008-2009 do Curso de Formação da Seção SC (em formação) da EBP.
Pontuada sobre tema caro aos psicanalistas – a expressão dos afetos, a aula foi marcada por um posicionamento contrário à campanha mundial, orquestrada pela psiquiatria biológica e os laboratórios farmacêuticos que, de forma alarmista, induzem à inclusão de qualquer manifestação do afeto de tristeza dentro do diagnóstico de depressão, além de propor a “pílula do homem feliz” – o antidepressivo.
Fundamentalmente utilizou-se dados apresentados por psicanalistas franceses da AMP, que denunciam tal campanha, que está em curso em 18 países da Europa, promovida pela Aliança Européia Contra a Depressão – EAAD, que em seus guias de orientação e educação para a saúde, apontam para a idéia de uma epidemia que ameaça à população. Visando alertar para o risco do que chamam de nova epidemia, incutem a generalização da depressão e, justificados pelo argumento do sub-diagnóstico, traduzem para a linguagem comum, item por item, o previsto no DSM IV, com o intuito que se realize o auto-diagnóstico e que as pessoas sigam as orientações prescritas, que redundam na administração de anti-depressivos e seu tratamento coadjuvante: as Terapias Congnitivo-Comportamental .
Enquanto psicanalistas de orientação lacaniana cabe-nos marcar que:
1 - tristeza e felicidade são afetos tipicamente humanos, resposta a eventos normais da vida, portanto correspondem às manifestações mais íntimas dos sujeitos, em seus encaminhamentos nas trilhas do desejo e no encontro com o gozo, isto é, no mais-além do desejo.
2 – há uma patologização dos afetos, pela sua generalização em diagnósticos clínicos que, além de errôneo, encaminha-se para a suposição que se pode (e se deve) estar sempre feliz e à intolerância à expressão do mal-estar.
3- não tomamos sintomas como quadro clínico e, enquanto profissionais, temos a responsabilidade de bem distinguir uma alteração normal do humor de um quadro patológico, no que alertamos quanto aos riscos dos auto-diagnósticos.
4 – a medicação, muitas vezes necessária, não pode ser proposta como o principal recurso ao tratamento pois, neste caso, se está levando em conta o homem somente em seus aspectos neuronais e sinápticos em detrimento à subjetividade e aos saberes que daí podem advir, como respostas singulares ao sofrimento, desde que se possa por ele (o seu sofrimento) se responsabilizar, o que não ocorre com a proposta protocolar, massificadora, das TCC.
Por último marcamos a diferença da formação requerida aos que se propõem a tratar do sofrimento psíquico que, na campanha citada, o médico generalista é apresentado como um dos que estão autorizados a diagnosticar e tratar os deprimidos; para nós, psicanalistas de orientação lacaniana, sabemos que em nada uma formação exclusivamente médica habilita alguém a tal exercício, seguimos à Freud (sobretudo em “A questão da análise leiga”) e apontamos a inutilidade do saber-conhecimento para tal trabalho; propomos a formação calcada no tripé: análise pessoal, estudo sistemático da bibliografia e supervisão de casos clínicos.
Laureci Nunes (EBP/AMP)– Coordenadora do Curso de Formação em Teoria Psicanalítica da EBP-SC (em formação)
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