quinta-feira, 24 de maio de 2012

AUTISMO(S) E ATUALIDADES: UMA LEITURA LACANIANA






Sábado, dia 26 de maio, acontece o lançamento do livro AUTISMO(S) E ATUALIDADES: UMA LEITURA LACANIANA, com artigos de vários psicanalistas, dentre eles Rosane Padilla e Louise Lhullier

A atividade faz parte do espaço Encontro com o autor, promovido pela Barca dos Livros, localizada no LIC - Lagoa Iate Clube.

Nesta manhã de autógrafos com Rosane Padilla e Louise Lhoullier será apresentado o livro e realizado debates sobre questões do autismo com o público presente. Teremos também a participação dos cartéis da EBP/SC que estão envolvidos com os estudos do autismo.



Contamos com você para fazermos deste evento um importante espaço de debate para discussão do tema.

A atividade é gratuita e a venda do livro no dia do lançamento terá um preço especial de R$ 30,00.

Vale lembrar que a ida ao LIC pode se converter também em um belo passeio para um sábado de outono.

Estacionamento gratuito.


Autismo(s) e atualidade: uma leitura lacaniana

Alberto Murta, Analícea Calmon e Márcia Rosa (ORGs)

SUMÁRIO

Apresentação – Cristina Drummond

Novas considerações sobre o autismo
O que nos ensinam os autistas - Éric Laurent
Língua verbosa, língua factual e frases espontâneas nos autistas - Jean-Claude Maleval
Autismo generalizado e invenções singulares - Yves-Claude Stavy

Desenvolvimentos sobre o autismo

A questão do autismo - Maria do Rosário Collier do Rêgo Barros
A Transferência na Clínica do Autismo - Tânia Maria Lima de Abreu – Relatora
Autismo: uma leitura para além dos limites do simbólico - Rosane Padilla e Louise Lhullier
O autista, mestre da linguagem – Suzana Faleiro Barroso

A prática psicanalítica com autistas

Um certo saber-fazer com o léxico - Teresinha Natal Meirelles do Prado
Objeto e linguagem em um caso de autismo - Paula Pimenta
O uso da Topologia na Clínica do Autismo - Fátima Sarmento
Os autistas e o uso do simbólico: enigma e invenção – Paula Borsoi

segunda-feira, 21 de maio de 2012

O GOZO FEMININO COMO PARADIGMA DO GOZO PROPRIAMENTE DITO


Apesar dos trinta anos dedicados ao estudo da sexualidade feminina, Freud confidencia a Jones, que não conseguira responder a pergunta que lhe intrigava: “Was will das weib?” (“O que deseja a mulher”?). E acaba por renunciar à compreensão do “continente negro” da feminilidade. Mal sabia Freud que não se tratava de tentar compreender a mulher, mas de amá-la, sem compreendê-la, conforme conclui Sérgio de Campos ao final de sua análise, quando pode consentir que la Donna è móbile qual piúma al vento, muta d’accento e de pensier. O esquema de conjunto que Freud propõe e que se apóia no Complexo de Édipo, não chega a elucidar a especificidade da sexualidade feminina. Ao afirmar que só há uma libido – a masculina – ele deixa por fora de sua teorização e elucubração, um outro campo onde se situam todos os seres que assumem a posição feminina. 

Ao explorar os misteriosos labirintos da alma feminina, no mais além do Édipo, e, buscando deslindar os impasses com os quais Freud se deparou, Lacan retira o problema da feminilidade do contexto do sexual e do anatômico, para situá-lo no campo do gozo. Para tanto, inventa as “fórmulas da sexuação”, onde alinha os sujeitos de acordo com sua posição de gozo – do lado masculino ou do lado feminino. Suas fórmulas representam a escritura lógica da divisão da libido em duas partes: uma toda fálica, de um lado, e outra não-toda fálica, de outro. 

Lacan isola uma parte do gozo feminino que se inscreve sob a égide do falo e está em sintonia com o significante, e outra parte que se situa fora da norma fálica e resiste à captura pelo significante, e, portanto, se mostra opaca ao sentido. 

No último período de seu ensino, Lacan toma o gozo feminino como paradigma para pensar o regime do gozo propriamente dito. “O que ele entreviu pelo viés do gozo feminino, ele o generalizou até fazer dele o regime do gozo como tal” (J-A Miller. V lição do curso da Orientação Lacaniana de 2011, p.2). A partir de então, o gozo passa a ser reduzido ao puro acontecimento de corpo. “O gozo como tal é não edipiano – diz Miller –, é o gozo como subtraído da maquinaria do Édipo”, como escapando ao regime da interdição-permissão. 

Com efeito, é a partir da mulher, ou melhor, do gozo feminino, que sabemos que o gozo é um absoluto para o sujeito. É por isto, que não se pode resistir a ele facilmente: porque é a exigência de um absoluto. O termo “absoluto” implica disjunção com respeito à dialética, e, portanto, à lógica do significante; em grego, apolelumenon, significa: sem laço, que não depende de nada, incondicional, que não respeita nenhum limite. “É um quero isso, o exijo, e ponto! Aqui a vontade não é o desejo. A vontade é a pulsão, é o gozo” (Isabelle Durand. El superyó, femenino (2008), p.97). 

Não faltam testemunhos, na clínica psicanalítica, das manifestações do gozo feminino em sua vertente devastadora: desde a mais leve desorientação até a angústia profunda, com todos os graus de aflição e extravio. Pode se apresentar como uma dor psíquica ligada a um afeto de não ser, de ser nada, com momentos de ausência de si mesmo, que se traduz por uma sensação de incompletude radical. A essa falta de consistência pode se somar um sentimento de fragmentação corporal que pode estender-se a ponto de indagar o diagnóstico diferencial e fazer pensar em psicose (J-A Miller. De mujeres y semblantes. (1994), p.89). 

Cleudes Maria Slongo - Coordenadora do Núcleo de Investigação da Clínica do Feminino 
Seção SC da EBP

AMP, um convite ao trabalho, por Leonardo Scofield

Anuncia-se em Paris, em 2010, que a AMP abre suas portas para o congresso. Sinto-me convidado a trabalhar. Em Buenos Aires, dia 23 de maio de 2012, me arrepio ao ouvir Flory Krouger declarando “abierto el congreso de la Asociación Mundial de Psicoanálisis” . Tive então a convicção de que, mais uma vez, eu estava no lugar certo. Entre mais de 2300 psicanalistas do mundo inteiro, iniciava-se a compilação de trabalhos elaborados como frutos de formações que viraram o século. Esta manhã de segunda-feira renovou a aposta na psicanálise, através da singularidade de cada sujeito que testemunhou do ponto mais vivo de sua subjetividade, ou seja, do percurso de sua análise levada a termo. Os relatos de passes foram intercalados com testemunhos da prática clínica atual e suas consequências no conceito de interpretação e de transferência. Para concluir os vários relatos, nas mais diversas línguas, Graciela Brodsky testemunha de outra língua, inexistente em dicionários, uma língua que “cessa de não se escrever”.

As plenárias debateram, dentre outros, o feminino, tema do próximo Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, fomentando questões e estabelecendo orientações imprescindíveis. As tecnociências também foram trazidas para um debate no qual a psicanálise está, cada vez mais, implicada. Entretanto, advertida em não assumir o lugar da garantia ao qual podemos ser convocados pelo delirante discurso da medida e do cálculo absoluto. Esse debate foi enriquecido por um investigador em medicina e teria sido ainda mais pertinente com a presença de Raúl Zaffaroni, jurista, membro da Corte Suprema de Justiça que não compareceu. Seria muita ousadia interpretar que no século XXI, para as tecnociências, a intervenção jurídica tem uma consistência ausente? Qual é o estatuto da Lei que circunscreve esse discurso?

Antes de me atentar para um dia inteiro de jornadas clínicas espalhadas pelo Hotel, estive de ouvidos bem atentos aos trabalhos da plenária e olhos apetecidos por lê-los e desfrutar ao máximo da riqueza e do rigor que transmitiam. Logo, meu desejo foi acolhido por Leonardo Gorostiza ao anunciar que os trabalhos da plenária seriam publicados. Certamente, este livro precioso não faltará em minha biblioteca.
Por falar em livros, eram duas as livrarias que expunham pérolas sobre os mais variados e atuais temas e nas mais diversas línguas, como lembrou Oscar Reymundo que folheava ao inverso um livro de psicanálise escrito em Hebreu.
Durante os intervalos ou pausas de elaboração, era contagiante o clima de trabalho intenso e prazer. Reuniões, supervisões, entrevistas, sessões de análise, encontros e reencontros se aconchegavam nas belas poltronas instaladas no café iluminado do Hilton.

Porto Madeiro, com sua modernidade em prédios enormes e restaurantes deliciosos cobertos de vidro, refletia a hipermodernidade do século XXI, em questão no congresso.

Para o encerramento, o discurso não poderia ser melhor, fomos todos convidados aos próximos encontros, ENAPOL, Journée d’Automne, Encontro Brasileiro do Campo Freudiano e vários outros que antecedem o próximo congresso da AMP em 2014, em Paris, sobre “O real no século XXI”. É com esse convite ao trabalho que deixei Buenos Aires e, com prazer, o compartilho com vocês.

Abraço,
Leonardo Scofield

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Jacques Alain Miller apresenta o tema do Congresso da AMP de 2014, por Laureci Nunes

Em conferência de encerramento do VIII Congresso da AMP, que reuniu em torno de 2400 pessoas, em abril último, em Buenos Aires, Jacques-Alain Miller anunciou o tema do próximo Congresso que acontecerá em Paris: “A desordem do real no século XXI”.
O real foi apresentado por Miller como o segundo tema de uma série de três que começou com o da Ordem Simbólica. Trata-se de situar os efeitos na prática clínica, a partir desses dois registros, no contexto do século XXI, que está estruturado pelo discurso da ciência,pelo discurso capitalista além de um terceiro fator que é a combinação de ambos os discursos.
Miller apontou que se faz necessário esclarecer para nós mesmos as consequências do real no século XXI em relação às estruturas clínicas, na medida em que a nova ordem simbólica, que desvaloriza o fundamento angular que é o Nome do Pai, sacode a diferença entre neurose e psicose.
Ele considera que havia um tempo em que o real se chamava Natureza, tida como o mais elevado conceito de ordem, e que não causava surpresa. O real enquanto natureza tinha a função de Outro do Outro, como garantia mesma da ordem simbólica. Na medida em que natureza representava a conjunção do real e do simbólico, as estações, o espetáculo dos céus, os astros, eram usados como referência por Lacan para dizer que o real sempre retornava ao mesmo lugar. Tratava-se do tempo em que o Nome do Pai era a chave da ordem e a ordem humana deveria imitar a ordem natural.
Mesmo com a entrada de Deus na Criação a ordem segue em vigência, salienta Miller, lembrando dos esforços da Igreja para não tocar na ordem natural. No entanto, acrescenta, “este discurso antigo é admirável como causa perdida: todos nós sabemos que o real havia escapado da natureza, não bastava um Deus para resistir à irresistível mudança científica”; fez outra referência à Lacan, quando este disse que a causa de Deus era um triunfo, porque o real destacado da natureza é insuportável, daí a nostalgia ao objeto perdido.
Miller lembra que mesmo antes do discurso da ciência já havia um movimento que pensava tocar, controlar o real: a Magia. Com o significante encantação, a magia pretendia acalmar a natureza; via bruxaria ela fazia a natureza falar, enquanto a ciência a faz calar. Com a magia estava suposto haver um saber no real. Ele lembra também que Lacan chegou a se perguntar se a psicanálise não era um tipo de magia.
O saber científico desvela o real apresentando leis e previsões, extraindo um saber do real. A ciência faz um curto-circuito e apresenta um paradoxo em relação à fórmula de Lacan, em seu último ensino: o real é sem lei. Miller acrescenta que o capitalismo mais ciência ao se combinar fazem desaparecer a natureza; ocorre uma desvalorização do real, e desordenadamente se toca nele de todas as formas.
Lembrando que quando Lacan nos ensinou que o inconsciente era estruturado como uma linguagem, também o ensinou como uma lei, que apoiou-se em grafos, em ordenamento fálico, etc., mas, acrescentou Miller, uma nova dimensão se abriu com a concepção de alíngua: há lei da linguagem, mas não há leis para as línguas, estas estão cada qual, formadas por contingências. O inconsciente é uma elucubração de saber sobre o real. O real não tem sentido, os sentidos dados advém da elucubração fantasmática e a experiência analítica é para reduzir o real a desenhar-se como puro choque pulsional; pedaços oriundos do encontro entre a língua e o corpo, encontro contingente e que sempre parece perverso, um gozo sempre desviante do como deveria ser.
Ao finalizar Miller acrescenta que o último Lacan centrava-se sobre o real e que o real inventado por ele não é o mesmo real da ciência. Para Lacan o real é sem lei, sem regra, sem lógica e a psicanálise é uma elucubração sobre ele. Pontuando que o inconsciente transferencial é uma defesa contra o real e que, nossa clínica, para adentrar no século XXI deve centrar-se sobre o inconsciente real, Miller considera que se faz então necessário uma redefinição sobre o desejo do analista.
Dadas as coordenadas introduzidas por Jacques Alain Miller, nossa comunidade analítica se debruçará nos próximos dois anos sobre o tema da “Desordem do real no século XXI”, buscando tirar consequências clínicas e epistêmicas. 
Este é o novo e instigante convite ao trabalho!

Laureci Nunes - EBP/AMP


sábado, 5 de maio de 2012

O VIII Congresso da AMP, por Eneida Medeiros Santos

Aproximadamente dois mil e trezentos participantes. Este é um número bastante significativo de psicanalistas que participaram do VIII Congresso da Associação Mundial de Psicanálise, que foi intitulado “A ordem simbólica no século XXI não é mais o que era – Que consequências para a cura?” e que aconteceu na maravilhosa cidade de Buenos Aires. Esse número reflete não apenas a impressionante ressonância que a psicanálise encontra na comunidade argentina como também desmente as afirmações tão frequentes na mídia de que a psicanálise está obsoleta. 
Em sua fala de encerramento, Gabriela Camaly, psicanalista da EOL, disse ter encontrado, no elevador do hotel onde acontecia o Congresso, com um médico pediatra que participava pela primeira vez de um Congresso de psicanalistas. Ao ser interpelado por ela sobre se havia gostado do mesmo, ele diz que, quando há congressos de medicina, ele observa que as pessoas em geral pouco assistem às mesas e mais se ocupam de fazer turismo pela cidade na qual acontece o evento. Ali, ao contrário, ele observou, para seu espanto, que havia filas para a entrada nas plenárias e nas salas simultâneas. De uma forma muito simples, este pediatra se depara com um elemento muito importante que é o que mantém a psicanálise lacaniana viva, o desejo e, porque não, o gozo. Os lacanianos são assim: quanto mais orientados pelo real que os habita, mais dispostos estão a introduzir a singularidade no seu ofício. É o que produz essa impressão viva do movimento em direção ao saber, movimento que não está livre de uma perturbação no sujeito. 
O acento colocado pelos que expuseram seus trabalhos nas plenárias, fundamentalmente os que abordaram as aproximações ou distanciamentos existentes entre o discurso da ciência e o discurso analítico, recaiu sobre a importância da invenção de um novo vínculo entre a psicanálise e a ciência. Por exemplo, François Ansermet diz que, de um lado, a psicanálise não pode entrincheirar-se em oposições com a ciência e, de outro, o código genético – paixão dos cientistas – existente em cada manifestação dita patológica, como nas crianças autistas, por exemplo, não entrega a causalidade do mal que a ciência quer revelar. 
Desta forma, um pediatra que está movido pelo discurso científico pode se deixar surpreender, na sua clínica com as crianças, pela importância que existe naquilo que não pode ser localizado geneticamente. Ao longo de sua vida profissional, pode esbarrar no discurso analítico e assim concluir que a criança, através de seu corpo, guarda e ao mesmo tempo revela em seu sintoma um saber sobre o segredo que reside na família e no casal parental, assunto que foi muito discutido na reunião do CEREDA (acrônimo francês de: Centro de Estudos e de Pesquisas sobre a Criança no Discurso Analítico), que contou com a participação de Judith Miller (responsável pela rede no mundo) e que aconteceu no calor dos debates do Congresso. 

Eneida Medeiros Santos - EBP/AMP - Coordenadora do Núcleo Pandorga.

Aconteceu durante o Congresso, por Marise Pinto

A reunião presidida por Cristina Vidigal, Coordenadora da NRCEREDA no Brasil, reuniu os Núcleos de investigação em psicanálise com crianças de todo o Brasil. Dentre os assuntos tratados, a oportunidade de publicação de produções dos Núcleos em vários veículos que se dedicam ao assunto, aqui e no exterior. 
Foi confirmada a presença de Éric Laurent no Encontro Nacional que este ano será em Salvador, Bahia, o que apresenta a possibilidade de ele nos brindar com uma conferência no próximo encontro de NRCEREDA por ocasião do Encontro Nacional, onde CIEN e CEREDA farão programações conjuntas. 
A reunião foi finalizada em clima de entusiasmo no encaminhamento dos trabalhos que irão orientar o próximo Encontro. 

Marise Pinto, integrante de PANDORGA– Núcleo de investigação em psicanálise com crianças, da Seção SC da EBP.

Jornadas Clínicas no VIII Congresso da AMP, por Oscar Reymundo

Tive a honra de ter sido escolhido como leitor dos trabalhos clínicos de uma das mesas simultâneas do Congresso e tive a grande satisfação de ter lido e comentado os casos apresentados por Márcia Maria Rosa Vieira colega da EBP de Minas e Gabriel Racki da EOL.
No seu trabalho "As novas fobias, os velhos medos", Márcia nos apresentou um caso de um adolescente dos tempos de hoje, no sentido de um sujeito que acredita que possa haver respostas para seu padecimento que o isentem da responsabilidade que lhe cabe na invenção das mesmas. Márcia o disse com muita clareza: "este sujeito insistia numa causalidade orgânica do seu padecer e numa subjetividade configurada nos moldes do DSM IV". O que eu consegui interpretar é que Márcia nos apresenta o caso da produção duma subjetividade sustentada pelo furor identitário próprio do século XXI, furor identitário que é resposta ao apelo sedutor das falsas ciências. Esta posição desimplicada o impedia de sintomatizar seu gozo. Seguindo Jean-Pierre Deffieux, Márcia resgatou uma articulação entre a fobia deste adolescente, fobia dita social, e a dificuldade de enlaçamento dos três registros, e Márcia também nos disse que nada indicava que a significação fálica estivesse zerada, mas que era inoperante. Nesse ponto me surgiu uma questão que não é nova para mim: podemos pensar, então, que o caráter não típico do que estava em jogo neste caso, como disse Márcia, era a dificuldade deste adolescente para servir-se do pai? Porque segundo entendi, havia um pai só que não era usado na sua função de apaziguador e de orientador do gozo. Achei que este seria, então, um caso no qual nos deparamos com a crença de que seria possível prescindir do pai sem servir-se dele.
Com relação ao trabalho de Gabriel,"Uma histérica contemporânea", achei necessário fazer a seguinte pontuação acompanhando o que Gabriel nos convidava para pensar: a transformação da sociedade, da família, do lugar das mulheres na sociedade e na família e a liberação dos costumes, têm mudado as formas dos sintomas que, nos tempos atuais, já não mais se apresentam ao analista como sintomas a decifrar. Nesse sentido, a clínica contemporânea se caracteriza pela angústia, pelos actings-out e pelas passagens ao ato, então, seguindo o que Gabriel apresentara, achei importante destacar uma frase do seu texto que, segundo meu parecer, foi uma frase preciosa pela orientação clínica que nos assinalava: "todo eso no sin esporádicos ataques de aburrimiento y angustia...única hiancia fugaz para um analista". Tudo isso quer dizer, toda essa bateria de semblantes que essa mulher, uma histérica contemporânea, soube produzir, mas para quem a emergência da angústia e do tédio acabaram constituindo a constatação de que os semblantes falham".

Oscar Reymundo - EBP/AMP