Tive a honra de ter sido escolhido como leitor dos trabalhos clínicos de uma das mesas simultâneas do Congresso e tive a grande satisfação de ter lido e comentado os casos apresentados por Márcia Maria Rosa Vieira colega da EBP de Minas e Gabriel Racki da EOL.
No seu trabalho "As novas fobias, os velhos medos", Márcia nos apresentou um caso de um adolescente dos tempos de hoje, no sentido de um sujeito que acredita que possa haver respostas para seu padecimento que o isentem da responsabilidade que lhe cabe na invenção das mesmas. Márcia o disse com muita clareza: "este sujeito insistia numa causalidade orgânica do seu padecer e numa subjetividade configurada nos moldes do DSM IV". O que eu consegui interpretar é que Márcia nos apresenta o caso da produção duma subjetividade sustentada pelo furor identitário próprio do século XXI, furor identitário que é resposta ao apelo sedutor das falsas ciências. Esta posição desimplicada o impedia de sintomatizar seu gozo. Seguindo Jean-Pierre Deffieux, Márcia resgatou uma articulação entre a fobia deste adolescente, fobia dita social, e a dificuldade de enlaçamento dos três registros, e Márcia também nos disse que nada indicava que a significação fálica estivesse zerada, mas que era inoperante. Nesse ponto me surgiu uma questão que não é nova para mim: podemos pensar, então, que o caráter não típico do que estava em jogo neste caso, como disse Márcia, era a dificuldade deste adolescente para servir-se do pai? Porque segundo entendi, havia um pai só que não era usado na sua função de apaziguador e de orientador do gozo. Achei que este seria, então, um caso no qual nos deparamos com a crença de que seria possível prescindir do pai sem servir-se dele.
Com relação ao trabalho de Gabriel,"Uma histérica contemporânea", achei necessário fazer a seguinte pontuação acompanhando o que Gabriel nos convidava para pensar: a transformação da sociedade, da família, do lugar das mulheres na sociedade e na família e a liberação dos costumes, têm mudado as formas dos sintomas que, nos tempos atuais, já não mais se apresentam ao analista como sintomas a decifrar. Nesse sentido, a clínica contemporânea se caracteriza pela angústia, pelos actings-out e pelas passagens ao ato, então, seguindo o que Gabriel apresentara, achei importante destacar uma frase do seu texto que, segundo meu parecer, foi uma frase preciosa pela orientação clínica que nos assinalava: "todo eso no sin esporádicos ataques de aburrimiento y angustia...única hiancia fugaz para um analista". Tudo isso quer dizer, toda essa bateria de semblantes que essa mulher, uma histérica contemporânea, soube produzir, mas para quem a emergência da angústia e do tédio acabaram constituindo a constatação de que os semblantes falham".
Oscar Reymundo - EBP/AMP
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