Anuncia-se em Paris, em 2010, que a AMP abre suas portas para o congresso. Sinto-me convidado a trabalhar. Em Buenos Aires, dia 23 de maio de 2012, me arrepio ao ouvir Flory Krouger declarando “abierto el congreso de la Asociación Mundial de Psicoanálisis” . Tive então a convicção de que, mais uma vez, eu estava no lugar certo. Entre mais de 2300 psicanalistas do mundo inteiro, iniciava-se a compilação de trabalhos elaborados como frutos de formações que viraram o século. Esta manhã de segunda-feira renovou a aposta na psicanálise, através da singularidade de cada sujeito que testemunhou do ponto mais vivo de sua subjetividade, ou seja, do percurso de sua análise levada a termo. Os relatos de passes foram intercalados com testemunhos da prática clínica atual e suas consequências no conceito de interpretação e de transferência. Para concluir os vários relatos, nas mais diversas línguas, Graciela Brodsky testemunha de outra língua, inexistente em dicionários, uma língua que “cessa de não se escrever”.
As plenárias debateram, dentre outros, o feminino, tema do próximo Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, fomentando questões e estabelecendo orientações imprescindíveis. As tecnociências também foram trazidas para um debate no qual a psicanálise está, cada vez mais, implicada. Entretanto, advertida em não assumir o lugar da garantia ao qual podemos ser convocados pelo delirante discurso da medida e do cálculo absoluto. Esse debate foi enriquecido por um investigador em medicina e teria sido ainda mais pertinente com a presença de Raúl Zaffaroni, jurista, membro da Corte Suprema de Justiça que não compareceu. Seria muita ousadia interpretar que no século XXI, para as tecnociências, a intervenção jurídica tem uma consistência ausente? Qual é o estatuto da Lei que circunscreve esse discurso?
Antes de me atentar para um dia inteiro de jornadas clínicas espalhadas pelo Hotel, estive de ouvidos bem atentos aos trabalhos da plenária e olhos apetecidos por lê-los e desfrutar ao máximo da riqueza e do rigor que transmitiam. Logo, meu desejo foi acolhido por Leonardo Gorostiza ao anunciar que os trabalhos da plenária seriam publicados. Certamente, este livro precioso não faltará em minha biblioteca.
Por falar em livros, eram duas as livrarias que expunham pérolas sobre os mais variados e atuais temas e nas mais diversas línguas, como lembrou Oscar Reymundo que folheava ao inverso um livro de psicanálise escrito em Hebreu.
Durante os intervalos ou pausas de elaboração, era contagiante o clima de trabalho intenso e prazer. Reuniões, supervisões, entrevistas, sessões de análise, encontros e reencontros se aconchegavam nas belas poltronas instaladas no café iluminado do Hilton.
Porto Madeiro, com sua modernidade em prédios enormes e restaurantes deliciosos cobertos de vidro, refletia a hipermodernidade do século XXI, em questão no congresso.
Para o encerramento, o discurso não poderia ser melhor, fomos todos convidados aos próximos encontros, ENAPOL, Journée d’Automne, Encontro Brasileiro do Campo Freudiano e vários outros que antecedem o próximo congresso da AMP em 2014, em Paris, sobre “O real no século XXI”. É com esse convite ao trabalho que deixei Buenos Aires e, com prazer, o compartilho com vocês.
Abraço,
Leonardo Scofield
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