Aproximadamente dois mil e trezentos participantes. Este é um número bastante significativo de psicanalistas que participaram do VIII Congresso da Associação Mundial de Psicanálise, que foi intitulado “A ordem simbólica no século XXI não é mais o que era – Que consequências para a cura?” e que aconteceu na maravilhosa cidade de Buenos Aires. Esse número reflete não apenas a impressionante ressonância que a psicanálise encontra na comunidade argentina como também desmente as afirmações tão frequentes na mídia de que a psicanálise está obsoleta.
Em sua fala de encerramento, Gabriela Camaly, psicanalista da EOL, disse ter encontrado, no elevador do hotel onde acontecia o Congresso, com um médico pediatra que participava pela primeira vez de um Congresso de psicanalistas. Ao ser interpelado por ela sobre se havia gostado do mesmo, ele diz que, quando há congressos de medicina, ele observa que as pessoas em geral pouco assistem às mesas e mais se ocupam de fazer turismo pela cidade na qual acontece o evento. Ali, ao contrário, ele observou, para seu espanto, que havia filas para a entrada nas plenárias e nas salas simultâneas. De uma forma muito simples, este pediatra se depara com um elemento muito importante que é o que mantém a psicanálise lacaniana viva, o desejo e, porque não, o gozo. Os lacanianos são assim: quanto mais orientados pelo real que os habita, mais dispostos estão a introduzir a singularidade no seu ofício. É o que produz essa impressão viva do movimento em direção ao saber, movimento que não está livre de uma perturbação no sujeito.
O acento colocado pelos que expuseram seus trabalhos nas plenárias, fundamentalmente os que abordaram as aproximações ou distanciamentos existentes entre o discurso da ciência e o discurso analítico, recaiu sobre a importância da invenção de um novo vínculo entre a psicanálise e a ciência. Por exemplo, François Ansermet diz que, de um lado, a psicanálise não pode entrincheirar-se em oposições com a ciência e, de outro, o código genético – paixão dos cientistas – existente em cada manifestação dita patológica, como nas crianças autistas, por exemplo, não entrega a causalidade do mal que a ciência quer revelar.
Desta forma, um pediatra que está movido pelo discurso científico pode se deixar surpreender, na sua clínica com as crianças, pela importância que existe naquilo que não pode ser localizado geneticamente. Ao longo de sua vida profissional, pode esbarrar no discurso analítico e assim concluir que a criança, através de seu corpo, guarda e ao mesmo tempo revela em seu sintoma um saber sobre o segredo que reside na família e no casal parental, assunto que foi muito discutido na reunião do CEREDA (acrônimo francês de: Centro de Estudos e de Pesquisas sobre a Criança no Discurso Analítico), que contou com a participação de Judith Miller (responsável pela rede no mundo) e que aconteceu no calor dos debates do Congresso.
Eneida Medeiros Santos - EBP/AMP - Coordenadora do Núcleo Pandorga.
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