Nos últimos anos houve um crescimento expressivo do uso de medicação no tratamento das pessoas com sofrimento psíquico, não somente para os transtornos psicóticos que, sem dúvida, requerem a ajuda da medicação, como também para muitos outros “transtornos”. Um dos exemplos mais gritantes é o de crianças diagnosticadas com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, as conhecidas crianças TDAH, diagnóstico absurdamente freqüente feito com crianças na idade escolar.
Na fila dos mais tratados com a medicação, em primeiro lugar estão os chamados deprimidos. Os antidepressivos mais usados, desde a fluoxetina até os de primeira linha são geralmente prescritos sem necessidade, inclusive para pessoas com leves quadros depressivos ou com dificuldades emocionais. Hoje, tristeza e depressão passaram a ser a mesma coisa. Os fenômenos clínicos só adquirem importância a partir dos efeitos que os medicamentos podem oferecer, ou seja, a medicação passou a ser o princípio organizador da clínica médica. Somado a isso, bem sabemos que o culto ao medicamento e a oferta irresistível dos laboratórios não são nada inocentes.
A medicação é muito importante em algumas patologias e em situações bem específicas, mas felizmente há outras formas de tratar as dores do existir, formas que devolvem aos sujeitos a verdade de que seus corpos lhes pertencem, formas que permitem que ele assuma os riscos, as falhas e os tropeços no seu caminho na vida. Tristezas, desânimos e perdas são processos importantes que não devem ser rebaixados a um mero rótulo classificatório. Confrontar-se com eles ainda constitui a melhor forma de aprender a sobreviver sem precisar anestesiar-se. Será que o fim de um relacionamento, a demissão de um trabalho, a perda de um ser querido e tantas outras contingências da vida precisam de uma enfermidade que as justifique? “Felicidade é também ficar triste de vez em quando”.
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