A felicidade no mundo contemporâneo transformou-se em imperativo. Vivemos o tempo em que o ideal de felicidade e de qualidade de vida roubou a cena e chegou à proporções tais que, facilmente poderíamos, junto com Lipovetsky, denominar de “felicidade despótica” ou de “tirania da Felicidade”(1).
É nesse cenário que o consumo da medicação, testemunho da aliança da medicina com o mercado, encontra terreno fértil sobre o qual proliferar, respondendo à crença da conquista da felicidade através da psicofarmacologia. A psiquiatria promete ao mundo a cura para os sofrimentos psíquicos e populariza a utilização de drogas que, por exemplo, no caso da depressão, propõe eliminar do sujeito o sentimento de fracasso por não pertencer ao mundo dos homens felizes.
Essa é a ideologia que convence e que permite estabelecer os argumentos necessários à administração dos antidepressivos. Em 2007, Juan Pundik Knapheis, psicanalista em Madrid, inicia uma campanha de combate à legalização da administração de medicamentos antidepressivos para as crianças, que ficou conhecida como PLATAFORMA CONTRA A MEDICALIZAÇÃO DA INFÂNCIA. Ela se opõe particularmente à autorização da prescrição de Prozac para menores de 18 anos, autorização que foi solicitada por seu fabricante à Agência Européia do medicamento e obteve o parecer favorável.
“Inúmeros estudos e investigações publicadas nesses últimos anos estabelecem que a enorme argumentação de utilização de antidepressivos, elevando o nível de serotonina, com freqüência prescritos associados a outros medicamentos os quais, por sua vez, também elevam esse nível, constitui uma ameaça para a saúde e a vida do paciente. A Comissão Européia não tomou conhecimento disso, dando como válido apenas o relatório do laboratório fabricante. Concede-se aos profissionais médicos a autorização de decidir quais de nossas idéias ou condutas devem ser escritas, diagnosticadas, tratadas, medicadas e até mesmo drogadas com a aprovação da Comissão Européia” (2). Segundo Pundik há uma espécie de estado totalitário que pretende classificar crianças e jovens como angustiados, fóbicos, depressivos, atacados de pânico, bipolares, etc., submetendo-os a medicamentos que segregam e apagam os direitos e liberdades individuais. Tal fato se deve à negligência e voracidade da indústria farmacêutica, aliadas aos pesquisadores ansiosos em promover suas últimas descobertas, enfatizando os benefícios da medicação em detrimento de seus riscos. Os efeitos secundários não só podem ocorrer como de fato ocorrem.
Thomas Szasz, professor emérito de psiquiatria e membro vitalício da Associação Psiquiátrica Americana (APA) diz: “Nenhuma conduta, nem má conduta é uma enfermidade, nem pode ser uma enfermidade. Isso não é o que são as enfermidades. As enfermidades são disfunções do corpo humano, do coração, do fígado, etc. Por isso devem poder ser diagnosticadas por médicos e análises objetivas. Quando a criança vai ao doutor e lhe tiram muito sangue e raio X, ele não quer saber como se comporta. O etiquetar a criança como enferma mental é estigmatização, não diagnóstico. O dar à criança uma droga psiquiátrica é envenenamento, não tratamento”(3).
O psicanalista, na cotidianidade de sua clínica, pode extrair diversas conseqüências dessa tendência à medicalização da felicidade que promete ser globalizada e que, como vimos, visa estender-se também às crianças. Quando a felicidade torna-se uma questão de necessidade e urgência e “as maiores esperanças são depositadas nos progressos da ciência”, o que se mostra no horizonte é um completo apagamento do sujeito que é decorrente de sua impossibilidade de fazer uso da palavra e de seus efeitos, principalmente de seus tropeços.
1- LIPOVETSKY, Gilles. A Felicidade Paradoxal – Ensaio Sobre a Sociedade de Hiperconsumo.Companhia das Letras. São Paulo, 2007.
2- PUNDIK, Juan. AMP-UQBAR-LNA: Plate Forme Contre la Médicalisation de l’enfance. Le Nouvel Âne, nº 7. Outubro, 2007. “Juan Pundik, que é psicanalista em Madrid, continua seu combate contra a medicalização da infância. Ele se opõe particularmente à autorização da prescrição de Prozac para os menores de 18 anos. Pode-se apoiar sua ação escrevendo-lhe para o seguinte endereço: filium@arrakis.es”
3- http://es.youtube.com/watch. Dr. Thomas Szasz. Fevereiro,2007.
Eneida Santos Medeiros - responsável pelo Núcleo de Investigação e Pesquisa da Psicanálise com Crianças - EBP-SC (em formação)
É nesse cenário que o consumo da medicação, testemunho da aliança da medicina com o mercado, encontra terreno fértil sobre o qual proliferar, respondendo à crença da conquista da felicidade através da psicofarmacologia. A psiquiatria promete ao mundo a cura para os sofrimentos psíquicos e populariza a utilização de drogas que, por exemplo, no caso da depressão, propõe eliminar do sujeito o sentimento de fracasso por não pertencer ao mundo dos homens felizes.
Essa é a ideologia que convence e que permite estabelecer os argumentos necessários à administração dos antidepressivos. Em 2007, Juan Pundik Knapheis, psicanalista em Madrid, inicia uma campanha de combate à legalização da administração de medicamentos antidepressivos para as crianças, que ficou conhecida como PLATAFORMA CONTRA A MEDICALIZAÇÃO DA INFÂNCIA. Ela se opõe particularmente à autorização da prescrição de Prozac para menores de 18 anos, autorização que foi solicitada por seu fabricante à Agência Européia do medicamento e obteve o parecer favorável.
“Inúmeros estudos e investigações publicadas nesses últimos anos estabelecem que a enorme argumentação de utilização de antidepressivos, elevando o nível de serotonina, com freqüência prescritos associados a outros medicamentos os quais, por sua vez, também elevam esse nível, constitui uma ameaça para a saúde e a vida do paciente. A Comissão Européia não tomou conhecimento disso, dando como válido apenas o relatório do laboratório fabricante. Concede-se aos profissionais médicos a autorização de decidir quais de nossas idéias ou condutas devem ser escritas, diagnosticadas, tratadas, medicadas e até mesmo drogadas com a aprovação da Comissão Européia” (2). Segundo Pundik há uma espécie de estado totalitário que pretende classificar crianças e jovens como angustiados, fóbicos, depressivos, atacados de pânico, bipolares, etc., submetendo-os a medicamentos que segregam e apagam os direitos e liberdades individuais. Tal fato se deve à negligência e voracidade da indústria farmacêutica, aliadas aos pesquisadores ansiosos em promover suas últimas descobertas, enfatizando os benefícios da medicação em detrimento de seus riscos. Os efeitos secundários não só podem ocorrer como de fato ocorrem.
Thomas Szasz, professor emérito de psiquiatria e membro vitalício da Associação Psiquiátrica Americana (APA) diz: “Nenhuma conduta, nem má conduta é uma enfermidade, nem pode ser uma enfermidade. Isso não é o que são as enfermidades. As enfermidades são disfunções do corpo humano, do coração, do fígado, etc. Por isso devem poder ser diagnosticadas por médicos e análises objetivas. Quando a criança vai ao doutor e lhe tiram muito sangue e raio X, ele não quer saber como se comporta. O etiquetar a criança como enferma mental é estigmatização, não diagnóstico. O dar à criança uma droga psiquiátrica é envenenamento, não tratamento”(3).
O psicanalista, na cotidianidade de sua clínica, pode extrair diversas conseqüências dessa tendência à medicalização da felicidade que promete ser globalizada e que, como vimos, visa estender-se também às crianças. Quando a felicidade torna-se uma questão de necessidade e urgência e “as maiores esperanças são depositadas nos progressos da ciência”, o que se mostra no horizonte é um completo apagamento do sujeito que é decorrente de sua impossibilidade de fazer uso da palavra e de seus efeitos, principalmente de seus tropeços.
1- LIPOVETSKY, Gilles. A Felicidade Paradoxal – Ensaio Sobre a Sociedade de Hiperconsumo.Companhia das Letras. São Paulo, 2007.
2- PUNDIK, Juan. AMP-UQBAR-LNA: Plate Forme Contre la Médicalisation de l’enfance. Le Nouvel Âne, nº 7. Outubro, 2007. “Juan Pundik, que é psicanalista em Madrid, continua seu combate contra a medicalização da infância. Ele se opõe particularmente à autorização da prescrição de Prozac para os menores de 18 anos. Pode-se apoiar sua ação escrevendo-lhe para o seguinte endereço: filium@arrakis.es”
3- http://es.youtube.com/watch. Dr. Thomas Szasz. Fevereiro,2007.
Eneida Santos Medeiros - responsável pelo Núcleo de Investigação e Pesquisa da Psicanálise com Crianças - EBP-SC (em formação)
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