segunda-feira, 5 de maio de 2008

Clínica da Psicose: uma relação pragmática

O avanço do ensino de Lacan, e a entrada decidida do corpo em suas elaborações produzem uma inflexão fundamental na psicanálise e nos interessa, em particular, como isso ocorre na clínica da psicose. Desde a sua invenção a psicanálise se encontra as voltas com o saber fazer do psicótico com seu corpo. Se em outros tempos, esse saber fazer se articulava muitas das vezes mais claramente em torno de um sentido, restabelecendo suas relações com o Outro, na contemporaneidade há um esvaziamento do saber trazendo uma novidade a essa experiência. Em nosso tempo, encontramos psicóticos às voltas com os acontecimentos do corpo, e muitos destes, encontram um tratamento para o gozo que os invade a revelia de qualquer elaboração de saber. No seminário XX Lacan assinalava que o inconsciente era um saber fazer sobre lalangue. Ou seja, o inconsciente seria um se arranjar com o corpo na medida em que ele sofre os efeitos de lalangue. O inconsciente, assim entendido, não inclui o pai, e as soluções do sujeito podem prescindir deste sem qualquer exigência de elucubração de saber, sem qualquer recurso mais articulado à linguagem. Os conceitos de Parlêtre e Sinthoma ultrapassando a própria noção de inconsciente, vêm em auxílio de Lacan para dar conta desse novo estatuto do corpo, que produz efeitos na noção de sujeito e objeto a, situando a direção do tratamento diante de uma realidade que exige muitas vezes do analista uma relação bem mais pragmática com a psicose. Tal inflexão produzida por Lacan não se deu por acaso. A contemporaneidade traz elementos que alteram as relações do sujeito com o mundo, modificando seus sintomas, abrindo o espaço para modos de gozo até então inaceitáveis. Isso nos ajuda a pensar por que os psicóticos parecem se dar tão bem em nosso tempo. O que cabe ao analista diante dessa nova realidade? A psicose continua nos interrogando e conseqüentemente nos ensinando. Vamos ver o que conseguimos aprender.

Henri Kaufmanner (EBP-MG)

Nos dias 9 e 10 de maio, Henri Kaufmanner, psicanalista, psiquiatra, Membro da EBP, proferirá uma conferência na Seção SC , para a qual o Núcleo de Pesquisa em Psicose reitera o convite a todos os interessados.

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