sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Comentário sobre a VIII Jornada da EBP-SC: "...e afinal, o corpo fala?", por Silvia Espósito

Nossa VIII Jornada da EBP-SC “....e afinal, o corpo fala?”, faz parte do tema geral  “Falar com o corpo” que culmina com o VI  Encontro Americano  de Psicanálise da Orientação Lacaniana e o XVIII Encontro Internacional do Campo Freudiano em Buenos Aires, 21 a 23 de novembro próximo.
Porque o corpo? Em primeiro lugar porque, desde Freud, ele, o corpo, leva, carrega, o encontro traumático com o significante, marca original que vem do Outro. Mas também, porque hoje, o corpo que não fala, goza, sem o recurso simbólico do Outro, inconsciente que interpreta, significa. Enfrentamos assim as consequências da agitação do real que se revela na multiplicação das respostas do sujeito, drogas, álcool, bulimia, hiperatividade, pânico e as tentativas de normalizar do discurso da ciência. Na contramão desse discurso a psicanálise sem o recurso, muitas vezes, do Sujeito Suposto Saber que interpreta, precisa inventar um  Outro para cada um. Ou seja, sem interpretação, o que se impõe é o sintoma sem sentido.
Daí a importância que teve nossa jornada. Foram dois dias de intenso trabalho. Do ponto de vista epistêmico a Jornada foi um sucesso, a começar pela Conversação Clínica orientada pelo convidado Internacional José Fernando Velasquéz,  colega da Nel /AMP,  sobre dois casos de crianças, que com estilo simples e preciso  apontou a busca do ato analítico sob transferência.
Do mesmo modo o seminário “Do sintoma na criança ao sintoma da criança”, ministrado pelo próprio José Fernando Veláquez, brilhou pela clara e entusiasmada transmissão teórica. Assim como da forma generosa de contribuir com a sua solida experiência clínica. A transmissão fundamentada na lógica dos nós guia no passo da fala à leitura do significante na sua materialidade.
 O animo não foi menor na leitura e debate dos trabalhos apresentados nas mesas redondas.
“O real que se agita nos corpos” foi o primeiro tema em que se delineou a definição do real e a agitação contemporânea. O percurso do tema atravessou o estádio do espelho e a construção da imagem ficcional identificatória do corpo, a relação do real e os corpos, um caso de uma criança que não queria saber de palavras, exemplo  de orientação transferencial pelo significante  pela via do  real , por ultimo  um texto que refez o percurso Freudiano de inibição, sintoma e angustia, sob o suposto do sintoma como mensagem ao Outro.
O tema “Diferença, igualdade e diversidade sexual”, perpassou a distinção entre o falo e a função paterna, o corpo na dança de salão, o que não se escreve da indeterminação da diferença sexual, e por último, o debilitamento dos significantes mestres de identificação e as consequências das políticas de igualdade universal, a luz do novo mestre.
“Corporificação do sintoma”, tema da terceira mesa, nos ofereceu o acontecimento do corpo em relação ao sintoma como escrita selvagem do Um. O trabalho pôs o acento e pergunta sobre o lugar do corpo na experiência analítica. A passagem da escuta à leitura foi o que se destacou em outro texto e, para terminar, a relação entre trauma histérico e sintoma em Freud e o acontecimento do corpo irredutível à decifração.
No fechamento, “Corpo e política” levou a pensar nas surpreendentes manifestações de julho e a dificuldade em poder nomear e transformá-las em acontecimento. O seguinte trabalho se organiza a partir da formalização “do acontecimento do corpo” de Lacan e da “prática artística” do happening, dos anos 50. Arte e psicanálise amarrados à contingência, ao acaso, do sem sentido, do tempo, do espaço dialogam no texto.
“No avesso da política é o silencio dos corpos” e a partir de uma afirmação, sim, o corpo fala, aponta a pergunta sobre os efeitos do “discurso político no que se refere a valorização ou ao desprezo pelo corpo que transparece nas falas dos que decidem sobre o que é legitimo fazer com...eles...” tema atual da banalização da violência. Por ultimo “Na hora e a vez de um corpo” isola a frase “Cada um tem a sua hora e a sua vez: você há de ter a sua” Qual é a hora de corpo? Murmúrio repetido, repetido para esquecer, é a lei separada do corpo, sem poder decifrá-la.  Concluiu que o ato analítico inaugura a hora de um corpo.  
De tal modo que, com vistas a responder a provocação do título chegamos a nos perguntar, como faz Eric Laurent, “como falam os corpos para além do sintoma histérico, que supõe no horizonte o amor ao pai”? Lacan retoma a questão da identificação em Dora, não do mito freudiano, mas da experiência analítica. A partir do passe e do final de analise é que Lacan isola “identificar-se ao sintoma”. Sintoma que esta do lado do saber /não sabido. “O real como ideia limite”, do que não tem sentido. Passagem da fala à escrita, escrita de um gozo inaugural, contingente, que não se apaga. Fora de um querer dizer.
“Voo para a Liberdade” é o nome do projeto fotográfico cedida pelo Instituto Arco Iris, Organização da Sociedade Civil de Interesse Publico (OSCIP) que desenvolve a promoção da saúde, cidadania e direitos humanos com população em situação de vulnerabilidade e exclusão social. Projeto concebido, inicialmente na prevenção às DST/AID e a redução de Danos associados ao uso abusivo de drogas, nos presídios femininos do Estado de Santa Catarina acabou por introduzir o resultado relevante das oficinas de produção de fotografias. O sonho de liberdade de cada uma se materializa no envio das fotos aos familiares além dos muros. A  produção que se separa e cria assas. E o que me parece o mais importante, que marca o alem, é a foto como objeto de arte, arte anônima.
Belo exemplo pelo qual parabenizo de uma experiência que começa com a prevenção e que pela via da surpresa pode ultrapassar o limite e escutar os sonhos das internas.
Agora, me resta agradecer a todos os que participaram da Jornada, e contribuíram para fazer dela um evento que queremos repetir.

Silvia Emilia Espósito -Diretora Geral




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