Nossa VIII Jornada da EBP-SC “....e afinal, o corpo fala?”,
faz parte do tema geral “Falar com o
corpo” que culmina com o VI Encontro
Americano de Psicanálise da
Orientação Lacaniana e o XVIII Encontro Internacional do Campo Freudiano em
Buenos Aires, 21 a 23 de novembro próximo.
Porque o corpo? Em primeiro lugar porque, desde Freud, ele,
o corpo, leva, carrega, o encontro traumático com o significante, marca original
que vem do Outro. Mas também, porque hoje, o corpo que não fala, goza, sem o
recurso simbólico do Outro, inconsciente que interpreta, significa. Enfrentamos
assim as consequências da agitação do real que se revela na multiplicação das
respostas do sujeito, drogas, álcool, bulimia, hiperatividade, pânico e as
tentativas de normalizar do discurso da ciência. Na contramão desse discurso a
psicanálise sem o recurso, muitas vezes, do Sujeito Suposto Saber que
interpreta, precisa inventar um Outro para cada um. Ou seja, sem
interpretação, o que se impõe é o sintoma sem sentido.
Daí a importância que teve nossa jornada. Foram dois dias de
intenso trabalho. Do ponto de vista epistêmico a Jornada foi um sucesso, a
começar pela Conversação Clínica orientada pelo convidado Internacional José
Fernando Velasquéz, colega da Nel /AMP, sobre dois casos de crianças, que com estilo
simples e preciso apontou a busca do ato
analítico sob transferência.
Do mesmo modo o seminário “Do sintoma na criança ao sintoma
da criança”, ministrado pelo próprio José Fernando Veláquez, brilhou pela clara
e entusiasmada transmissão teórica. Assim como da forma generosa de contribuir com
a sua solida experiência clínica. A transmissão fundamentada na lógica dos nós
guia no passo da fala à leitura do significante na sua materialidade.
O animo não foi menor
na leitura e debate dos trabalhos apresentados nas mesas redondas.
“O real que se agita nos corpos” foi o primeiro tema em que
se delineou a definição do real e a agitação contemporânea. O percurso do tema
atravessou o estádio do espelho e a construção da imagem ficcional identificatória
do corpo, a relação do real e os corpos, um caso de uma criança que não queria
saber de palavras, exemplo de orientação
transferencial pelo significante pela
via do real , por ultimo um texto que refez o percurso Freudiano de
inibição, sintoma e angustia, sob o suposto do sintoma como mensagem ao Outro.
O tema “Diferença, igualdade e diversidade sexual”,
perpassou a distinção entre o falo e a função paterna, o corpo na dança de
salão, o que não se escreve da indeterminação da diferença sexual, e por último,
o debilitamento dos significantes mestres de identificação e as consequências das
políticas de igualdade universal, a luz do novo mestre.
“Corporificação do sintoma”, tema da terceira mesa, nos
ofereceu o acontecimento do corpo em relação ao sintoma como escrita selvagem
do Um. O trabalho pôs o acento e pergunta sobre o lugar do corpo na experiência
analítica. A passagem da escuta à leitura foi o que se destacou em outro texto
e, para terminar, a relação entre trauma histérico e sintoma em Freud e o acontecimento
do corpo irredutível à decifração.
No fechamento, “Corpo e política” levou a pensar nas
surpreendentes manifestações de julho e a dificuldade em poder nomear e
transformá-las em acontecimento. O seguinte trabalho se organiza a partir da
formalização “do acontecimento do corpo” de Lacan e da “prática artística” do
happening, dos anos 50. Arte e psicanálise amarrados à contingência, ao acaso,
do sem sentido, do tempo, do espaço dialogam no texto.
“No avesso da política é o silencio dos corpos” e a partir
de uma afirmação, sim, o corpo fala, aponta a pergunta sobre os efeitos do
“discurso político no que se refere a valorização ou ao desprezo pelo corpo que
transparece nas falas dos que decidem sobre o que é legitimo fazer com...eles...”
tema atual da banalização da violência. Por ultimo “Na hora e a vez de um
corpo” isola a frase “Cada um tem a sua hora e a sua vez: você há de ter a sua”
Qual é a hora de corpo? Murmúrio repetido, repetido para esquecer, é a lei
separada do corpo, sem poder decifrá-la.
Concluiu que o ato analítico inaugura a
hora de um corpo.
De tal modo que, com vistas a responder a provocação do título
chegamos a nos perguntar, como faz Eric Laurent, “como falam os corpos para além
do sintoma histérico, que supõe no horizonte o amor ao pai”? Lacan retoma a
questão da identificação em Dora, não do mito freudiano, mas da experiência analítica.
A partir do passe e do final de analise é que Lacan isola “identificar-se ao
sintoma”. Sintoma que esta do lado do saber /não sabido. “O real como ideia
limite”, do que não tem sentido. Passagem da fala à escrita, escrita de um gozo
inaugural, contingente, que não se apaga. Fora de um querer dizer.
“Voo para a Liberdade” é o nome
do projeto fotográfico cedida pelo Instituto Arco Iris, Organização da
Sociedade Civil de Interesse Publico (OSCIP) que desenvolve a promoção da
saúde, cidadania e direitos humanos com população em situação de
vulnerabilidade e exclusão social. Projeto concebido, inicialmente na prevenção
às DST/AID e a redução de Danos associados ao uso abusivo de drogas, nos
presídios femininos do Estado de Santa Catarina acabou por introduzir o
resultado relevante das oficinas de produção de fotografias. O sonho de
liberdade de cada uma se materializa no envio das fotos aos familiares além dos
muros. A produção que se separa e cria
assas. E o que me parece o mais importante, que marca o alem, é a foto como
objeto de arte, arte anônima.
Belo exemplo pelo qual parabenizo
de uma experiência que começa com a prevenção e que pela via da surpresa pode
ultrapassar o limite e escutar os sonhos das internas.
Agora, me resta agradecer a todos
os que participaram da Jornada, e contribuíram para fazer dela um evento que
queremos repetir.
Silvia Emilia
Espósito -Diretora Geral
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