Quarta-feira, 5 de março, respondendo ao convite que me fizera a professora LuzRodriguez-Carranza, titular de Literatura do Departamento de CulturaLatinoamericana da Universidade de Leiden, Holanda, dei uma conferência sobre"Ideologia da Avaliação, império do número e segregação contemporânea", paraprofessores da casa. A idéia surgiu de uma conversação com a professora Luz, que há alguns meses atrás, estando ela no Brasil, comentou sua preocupação com onúmero crescente de alunos que apresentam certificados psiquiátricos parajustificar suas ausências e dificuldades com os estudos.
Durante a reunião, que teve em torno de 15 professores e dois alunos, o assuntoque mais chamou a atenção dos professores e que mais custou situar nos termos em que eu queria transmitir, foi o da segregação. Foi muito esclarecedor, para mim,acompanhar, durante a conversação que seguiu a minha exposição, o trabalho paradiferenciar o não-todos, próprio de um processo de avaliação sobre as condiçõesrequeridas para aprovar ou não uma disciplina, da segregação do sujeito dapalavra, que é o próprio da abordagem cognitivo-comportamental das dificuldadesde um sujeito. Uma vez situada essa diferença, começaram a surgir exemplos dasdemandas que os alunos, que apresentam certificados sobre as mais variadasdesordens que possamos imaginar, dirigem para os professores. "Eu tenhodistúrbio de atenção. Veja o que o senhor pode fazer para não dificultar meusestudos". "Meu psiquiatra me disse que eu tenho fobia social e que não possoexpor-me em público. Como a senhora vai me avaliar?". "Eu sofro de ansiedade e nãosuportaria uma prova muito difícil".
Foi muito instigante perceber como, aos poucos, os professores foram falando sobre afalta de recursos para lidar com estes novos fenômenos, uma vez que recorrer aosaber do velho mestre disciplinador parece não dar bons resultados diante detanta manifestação de direito ao gozo. Finalmente, a pergunta sobre comosituar-se perante esta novidade criou espaço para eu dizer que embora sejaimportante elaborar uma posição institucional, com certeza não existe umsituar-se para-todos-igual e que o importante é que cada um, cada professor,possa produzir um saber próprio sobre como responder a essas demandas denão-implicação dos alunos em relação com a própria aprendizagem e formaçãoprofissional. Acho que ficou claro que a psicanálise tem muito para colaborarcom estas questões tão de nossos dias.
Oscar Reymundo (EBP - AMP)
Nenhum comentário:
Postar um comentário