quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O Núcleo Pandorga convida para assistir ao documentário:
"Quelle classe, ma classe!"
Dia 27, quinta, às 20:00h, na sala 901 da EBP/SC. Após o filme haverá debate com o psicanalista Philippe Lacadée.

O documentário é uma experiência interdisciplinar numa escola de adolescentes na perifeira de Paris.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011


Caros colegas,
é como muita satisfação que anunciamos o nascimento de mais um volume da Arteira – Revista de Psicanálise da Seção Santa Catarina da Escola Brasileira de Psicanálise.
Convidamos a todos para o seu lançamento que ocorrerá durante a VI Jornada da EBP-SC: Por que falar, ainda? O simbólico em psicanálise.
Data: 28/10/11
Horário: 21:30
Local: Hotel Slaviero.

sábado, 22 de outubro de 2011

Muro como lugar de produção de gozo, por Maria Noemi de Araujo

Ao contrário, da arquitetura pós-moderna que projeta edifícios espetaculares para durar pouco tempo, ao sul da índia, em Dorje Shugden inaugurou-se recentemente um muro da “fé” budista no Mosteiro Ganden para resistir no tempo.
Com três metros de altura (embora seu projeto indicasse nove), o muro de Dorje não conta com nenhuma entrada ao longo do seu comprimento, pois sua única função social é separar monges de monges ou iguais de iguais. Sua atração visual é uma alusão à arquitetura do próprio Mosteiro que simboliza uma “direção ao céu”. Com a proposta de possibilitar uma elevação da mente para além do que há de mundano, de sujo e dejeto no solo, o muro conduz o olhar para o sagrado infinito e nunca para os lados, para os iguais.
Alguns religiosos (desertores?) ao abandonarem esse recinto, declararam considerá-lo “sinistro”, ou símbolo de des(h)umanidade e ódio. Há uma caminhada humilhante, obrigatória e diária em volta do muro que coloca o usuário igualmente “em situação de separação”, hostilização e dejeto. Trata-se de uma das invenções “nada” Humana para lembrar ao homem “onde ele não é” humano, pois sua função é não deixar seu usuário esquecer que ele é, segundo a sua religião, inferior, desasujeitado...
Efêmera e criattiva é a organização do “Muro das invenções cotidianas”. Como uma espécie de janela urbana, ele provoca o olhar para as coisas reais do humano, num jogo de ver e ser visto, visível e invisível, “sujo e limpo”... O da “fé” é limpo, opaco, resistente ao tempo é produzido para organizar um olhar contemplativo. Assim, o Muro de Ganden exclui o outro, a realidade, o social e o presente ao induzir essa produção do olhar de uma cor só - o azul infinito do céu. Isso aniquila as marcas da singularidade dos humanos para assegurar um tipo de gozo (mítico?) associado ao símbolo religioso nostálgico (passado), a uma aposta no futuro (esperança da vida eterna) e o “faz-de-conta” que o presente inexiste.
O “das invenções“, ao incluir o uso de materiais, cores, texturas, formas e tamanho ao alcance da mão e do olhar do humano, dialoga com a linguagem real do presente espetacular, com um modo de gozo (real?) contemporâneo.
Com Gorostiza, que diz ser no “viés pelo qual o gozo” artístico “de cada Um conecta com o discurso do Outro”, penso nesse modo de fazer arte, de pichadores e grafiteiros, como produção de laço social. A presença de um “muro das invenções” no espaço urbano como algo que “sublima o dejeto” faz dele um lugar de “socialização do gozo” (Miller)?
Ao organizar em seu Cartaz-Muro os traços dos ideais da “VI Jornada” e imprimi-lo com o sêlo-símbolo da EBP, a Seção SC inscreveu a Psicanálise de orientação lacaniana na roda deste fazer artístico, ou no seu Gozo (real?). A imagem do cameleão como uma figura simbólica da disponibilidade que o ser vivo tem para mudar [de cor] faz o gozo circular, indica um “acordo” possível com o colorido das falas do presente para “tentar atingir o que a extrapola” (Valentim)?

Referências:
Gorostiza, L. “Nove pontuações sobre A salvação pelos dejetos”, 2010 . (http://www.ebp.org.br/enapol/09/pt/textos_online/pontuacoes.pdf).
Miller J.A. , “A Salvação pelos dejetos”. Correio 67, EBP, SP, dez 2010.
________“Sobre a Fnatasia”. O.L. 42.
Valentim, S. “Notícias n.1”. http://jornadaebpsc.blogspot.com
Muro do Mosteiro de Gander

domingo, 9 de outubro de 2011


Medo de criança ou medo da criança?

Ao ouvir um comentário sobre o crescente número de crianças que são duplamente abandonadas, por seus pais e pelo Estado, surpreendeu-me o seguinte: quem dizia do horror que a situação de abandono das crianças lhe despertava deixava-me em dúvida sobre o que era realmente o horror: o medo
que essa pessoa tinha de crianças que se apresentavam violentas, como até então não se havia imaginado, ou se essa pessoa fazia referência ao medo das crianças diante de uma realidade tão aterradora para elas.
As duas possibilidades soaram-me possíveis e pareceram-me igualmente aterradoras para as crianças. Nas duas situações a criança é colocada em posição de ter que precocemente arcar com o peso de sua inserção no mundo dito adulto, isto é, ter que haver com o desejo, dela e muitas vezes o de seus pais também.
A característica inerentemente humana, que nos diferencia dos animais é que todos estamos submetidos a um trauma inicial que marca a nossa entrada na civilização humana, a entrada na linguagem. Porém esta entrada não garante a um sujeito a posse do discurso, isto é, o laço social que a linguagem proporciona àqueles que dela podem se servir. O desejo é inoculado no filhote humano quando de sua entrada na linguagem, estando este ainda incompleto em sua maturação biológica. Ele nasce totalmente dependente de alguém que signifique seus apelos, seja para apaziguar a fome, aquecê-lo, mantê-lo limpo ou ainda acalentá-lo. O bebê certamente depende desses cuidados para sua sobrevivência, mas mais importante ainda para sua inserção na comunidade humana é a sua inscrição simbólica, que o antecede em sua chegada ao mundo, reservando-lhe um lugar propriamente seu. 
A psicanálise propõe como estratégia que se contrapõe à universalização do real que se dissemina cada vez mais em nossos dias, a vivificação do simbólico que particulariza a fala do um por um, apostando na invenção de gozos singulares para fazer barreira ao gozo autístico que o imperativo da Ciência e da Tecnologia produz.
Para discutir questões que dizem respeito às crianças e adolescentes, o Núcleo Pandorga de Pesquisa da Clínica Psicanalítica com Crianças convida para a conferência de Phillipe Lacadée, na abertura das atividades da Jornada EBP/SC.


Local: Hotel Valerim Plaza, rua Felipe Schmidt, 705, Centro. Dia 26, às 19h30. Valor R$ 40,00.


Marise Pinto
Psicanalista, integrante do "Núcleo Pandorga" EBP/SC.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Criamos corvos?

Na semana passada lemos, chocados, a notícia do menino de 10 anos que atirou na professora e depois se suicidou. Os jornais advertem que não se sabe o motivo. Porém sabemos sem medo de errar o que virá a seguir: diagnósticos, opiniões, palpites, idéias, julgamentos buscando culpados e reclamações de “mão dura”, na frágil interpretação de que a causa é a impunidade. Assim, no simulacro democrático do direito a opinar, a mídia desfila explicações que promovem a identificação dramática com o lugar da vítima ou o distanciamento “objetivo” indicando o que deveria ter sido feito para não acontecer o acontecido. Manobras inúteis perante a nossa impotência de dar conta do novo que esses sintomas anunciam. E não é ruim querer saber ou interpretar, o triste é perceber como se insiste em repetir velhos clichês. 
Podemos imaginar a angústia dos pais, a sensação de a terra se abrindo a seus pés, o susto dos colegas, amigos, parentes, que querem saber, colocar algo, fazer uma sutura no real imprevisto. O problema é querer saber tudo com a ideia de poder impedir que ocorra de novo, de prevenir. Um exemplo desta tentativa é um anúncio sobre a prevenção de acidentes que diz: “Se foi acidente poderia ter sido evitado”. Estranha maneira de redefinir um acidente cuja característica essencial é ser imprevisto, casual, relativo e contingente. Notadamente, depois do acontecido todo o mundo é sábio. A psicanálise não conjuga acidente com prevenção, mas com real impossível.
Por outro lado, cabe destacar que nessa proliferação de justificativas os dois campos do saber usados frequentemente são o da saúde: a saber, o menino era calado, introspectivo, vítima de bullying, o pai era autoritário, rígido, estressado; ou de ordem judicial- policial: buscar a todo custo um culpado, “alguém tem que pagar”. Respostas essas que, resumidamente, significam fazer desaparecer a causa (seja pela medicalização, seja pela prisão) e, assim, aliviam a angústia, pelo menos até o próximo episódio. Nenhum reconhecimento pelo senso comum de que não são fatos isolados como parece. Nenhuma consideração política na maioria das vezes.
O bullying é um exemplo. A definição o descreve como atos de física ou , intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo (do bully, tiranete ou valentão) ou grupo de indivíduos causando dor e angústia, sendo executados dentro de uma relação desigual de poder.
Naturaliza-se o fato do bullying levar até o suicídio, no exercício do poder de uns sobre os outros, como se fosse esse o problema. Quando a pergunta teria que ser: por que uma ou várias crianças podem chegar a esse extremo de crueldade? Mas não, prefere-se também se naturalizar que as crianças atingidas pelo bullying têm baixa auto-estima ou são débeis.
O discurso da psiquiatria opta por reduzir os conflitos a causas neuronais em vez de propiciar a responsabilidade do sujeito com relação a seu destino. O ideal de homens e mulheres fortes e sem conflitos, por consequência livres de sofrimentos, robotizados e seguros de si, recheia os programas da televisão, na mais fantástica máquina de moer consciências. Do mesmo modo se destaca que o bullying é problema entre alunos, só porque acontece nas escolas. Uma paciente, de visita na casa de um parente, se sente incomodada com o “clima” que se estabelece nas relações familiares e na tentativa de descrever, encontrar uma forma de adjetivar a experiência, solta de repente: bullying. Não se poderia pensar, a partir desse exemplo, que a escola é o elo final de uma corrente que começa em outro lugar? Não seria possível pensar que o discurso do dever ser higiênico esteja a serviço de esburacar o outro, que não entra no discurso oficial? Que a política de segregação não é privilégio de alguns Governos?
Que peculiar conjuntura capitalista, que nos faz viver vendo passo a passo a transcendência global do pacto entre a ciência e os laboratórios, entre alguns setores profissionais e os veículos de comunicação. Que discurso é esse do capitalismo que não favorece o laço entre os homens, e sim a ilusão de completude com o aparelho de turno? 
Que discurso é esse que promove consumidores-viciados, ávidos do gozo instantâneo, da felicidade “cash”, aqui e agora? Mais uma vez digo: que despolitização!!!


Silvia Emilia Espósito - Psicanalista Membro da EBP/AMP
Revisão: Elaine Dal Col da Silva